A jogadora de basquete Brittney Griner falou pela primeira vez com a imprensa desde que foi liberada após dez meses de prisão na Rússia, por posse maconha, e se emocionou. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, no Footprint Center, arena de seu time, o Phoenix Mercury, a americana de 32 anos teve de conter as lágrima enquanto falava sobre a força que teve para suportar o cárcere, agradeceu o apoio recebido e prometeu dar voz a outras pessoas que estão presas injustamente.

“Tempos difíceis não são estranhos para mim”, disse a bicampeã olímpica. “Vendo a situação de uma maneira mais profunda, nós sempre vamos ser confrontados com adversidades na vida. Essa foi uma bastante grande. Eu apenas me apoio no meu trabalho duro para conseguir passar por isso”, completou.

Durante a coletiva, Griner se colocou como uma voz para apoiar a luta de outras pessoas presas injustamente ao redor do mundo. “A todos que estão presos injustamente em todo o mundo, mantenham-se fortes, sigam lutando, não se rendam. Não vamos parar de lutar, não vamos parar de conscientizar as pessoas sobre todos que ficaram para trás”, disse.

A mensagem foi relacionada diretamente a Evan Gershkovich, repórter do Wall Street Journal que está detido na Rússia sob acusação de espionagem, desde março. “Ninguém deve ser submetido a uma condição como essa”, afirmou a jogadora de basquete ao tocar no assunto, que tem gerado mais um de muitos atritos entre Estados Unidos e Rússia.

Ela disse não ter conversado diretamente com os familiares de Gershkovich, mas seus representantes estão em contato com eles. “É um caminho muito longo. Você está em território estrangeiro e você está em águas desconhecidas. Então, eles podem não ter muito do conhecimento que nós temos, por isso existe bastante comunicação entre os dois times”, contou.

Também nesta quinta-feira, três tradicionais jornais dos Estados Unidos fizeram um manifestado pela liberação de Gershkovich. Junto ao Wall Street Journal, o Washington Post e o New York Times dedicaram um anúncio de página inteira em suas edições impressas, sob o título de ‘Noticiar não é crime’, dizendo que a prisão do jornalista é “uma tendência perturbadora em que jornalistas são assediados, presos ou até pior por relatar notícias”.

Além do posicionamento como ativista, Brittney Griner agradeceu a todos que a apoiaram quando era ela quem estava na mesma situação que Gershkovich. “Eu sabia de todo o esforço e de tudo que estavam fazendo para que eu voltasse. Isso me deixou um pouco mais cômoda, me fez ter esperança, que é uma coisa dura de ter”, afirmou.

O CASO

Griner foi detida em março do ano passado depois que a polícia disse que encontrou um vaporizador contendo óleo de cannabis em sua bagagem no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou. Em julho, a atleta admitiu a posse dos produtos, mas testemunhou que se descuidou e os embalou com pressa e não tinha intenção criminosa. Sua equipe de defesa apresentou declarações escritas dizendo que ela havia recebido cannabis para tratar de dores. No entanto, ela foi condenada a nove anos prisão no dia 4 de agosto por posse e contrabando de drogas.

Os advogados de Griner argumentaram que a punição era excessiva. Eles disseram que em casos semelhantes os réus receberam uma sentença média de cerca de cinco anos, com cerca de um terço deles com liberdade condicional. Ela foi transferida para uma colônia penal em Yavas, no oeste da Rússia, em setembro.

Antes de sua condenação, o Departamento de Estado dos EUA declarou que Brittney Griner estava “detida injustamente” – uma acusação que a Rússia rejeitou com veemência. Refletindo a crescente pressão sobre o governo Biden para fazer mais para trazer a jogadora para casa, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, revelou publicamente em julho que Washington havia feito uma “proposta substancial” à Rússia para levar a jogadora de volta aos país de origem, junto com Paul Whelan, um americano que cumpre uma sentença de 16 anos na Rússia por espionagem.

Em dezembro, a jogadora foi liberada pelo governo da Rússia após uma troca de prisioneiros com a Casa Branca. Viktor Bout, traficante de armas russo que está cumprindo uma sentença de 25 anos nos EUA e que já ganhou o apelido de “Mercador da Morte”, foi a moeda de troca do governo americano.