Milhares de pessoas foram convocadas a se manifestarem em Paris neste domingo (16), três semanas depois do início da greve de uma greve de refinarias na França que causou problemas de escassez de combustível no país, em um clima tensionado pela inflação.

A manifestação foi convocada por partidos de esquerda – A França Insubmissa, apoiada pelos Verdes, Socialistas e Comunistas – e reforçada por centenas de associações que buscam manter a tensão criada pela greve das refinarias da TotalEnergies.

Na sexta-feira (14), o gigante francês de energia anunciou um acordo de aumento salarial (7%, mais bônus) com os dois maiores sindicatos que representam a força de trabalho de suas quatro refinarias no país.

O sindicato CGT se recusou a aceitá-lo, reivindicando um aumento de 10%, e seus membros mantêm os piquetes.

“Você pode ver que esse movimento está começando a se espalhar”, afirmou a líder da bancada parlamentar do A França Insubmissa, Mathilde Panot, em entrevista à rádio France Info.

“Você pode ver isso no setor nuclear. Os caminhoneiros anunciaram uma paralisação na terça-feira, e muitos outros setores estão começando a se unir”, acrescentou.

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Vários sindicatos franceses anunciaram sua adesão ao dia nacional de greves na terça-feira (18), que deve afetar o transporte rodoviário e ferroviário, assim como o setor público.

– ‘Inaceitável’ –

O ministro das Contas Públicas, Gabriel Attal, declarou, no domingo, que a manutenção da greve é “inaceitável”.

“Obviamente, há um direito de greve, mas, em algum momento, o país tem que poder funcionar”, afirmou, em entrevista a diferentes veículos de comunicação franceses.

Esta semana, a greve foi suspensa nas duas refinarias do grupo Esso-ExxonMobil na França, graças a um acordo salarial firmado na terça-feira (11) e sob pressão do Executivo, decidido a assumir o controle das centrais para que a atividade possa ser retomada.

Pelo menos um terço dos postos de gasolina do país enfrentam problemas de abastecimento, especialmente nos arredores de Paris e no norte, o que implica horas de espera para poder reabastecer. Muitas empresas reduziram viagens e entregas, e até mesmo os veículos de serviços de emergência estão sendo afetados.

Os enormes lucros obtidos pelas empresas de energia, devido aos preços recordes dos combustíveis, despertam simpatia pelas demandas por aumentos salariais entre os trabalhadores. De acordo com uma pesquisa do BVA publicada na sexta-feira, porém, apenas 37% dos franceses apoiam as greves.

– Reforma da Previdência –

A marcha de domingo pretende denunciar “o aumento do custo de vida e a inação climática”.

Em uma carta conjunta, a recém-nomeada vencedora do Prêmio Nobel de literatura Annie Ernaux e outras 60 figuras públicas das artes e da cultura convocaram a população a se unir à marcha.

O principal objectivo é chamar a atenção para a difícil situação dos trabalhadores que lutam contra o aumento do custo de vida – a inflação foi de 5,6% em setembro, em termos homólogos – e criticar a falta de ação política contra a mudança climática.


A polícia espera um público de cerca de 30.000 participantes, incluindo grupos anarquistas e membros dos chamados “coletes amarelos”, afirmou um oficial que pediu para não ser identificado, acrescentando que “a organização alertou sobre temores” de confusão por parte destes últimos.

A magnitude dos protestos e das greves nos próximos meses pode influenciar a capacidade do governo de implementar sua polêmica reforma previdenciária.

Macron, que foi reeleito em abril, quer aumentar a idade para a aposentadoria, hoje de 62 anos, para equiparar a França com outros países europeus. Sindicatos e partidos de esquerda são frontalmente contrários a essa mudança.


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