Trabalhadores do setor dos transportes suspenderam, nesta sexta-feira (7), uma greve por reivindicações salariais em Buenos Aires, após a intervenção do governo argentino, que acusou os empresários do setor de “extorsão”.

“Não gostamos de que as discussões ocorram em um contexto de extorsão, elas têm que ocorrer em um marco de diálogo. Às 17h30, suspende-se a medida de força, as atas estão assinadas”, anunciou, durante coletiva de imprensa, o ministro da Economia e pré-candidato da situação à presidência, Sergio Massa, após uma reunião com empresários e sindicatos do setor.

A greve, anunciada à meia-noite, mas iniciada intempestivamente na tarde de ontem, transformou em pesadelo a mobilidade na cidade, após a adesão surpreendente, nesta sexta, das linhas ferroviárias que ligam a capital argentina à periferia da cidade.

“A partir de segunda-feira será montada uma mesa de diálogo com o objetivo de buscar soluções para os problemas que as empresas de transporte enfrentam”, disse Massa.

A cidade de Buenos Aires acordou vazia de “coletivos”, como os argentinos chamam os ônibus, devido ao cumprimento quase total da paralisação das atividades convocada pela Unión Tranviarios Automotor (UTA), o sindicato dos motoristas. A medida de força também afetou a periferia, a cidade de La Plata (sul) e seis províncias.

No âmbito de uma inflação anualizada de mais de 100% e de uma negociação coletiva fracassada, o governo de Alberto Fernández havia ordenado um aumento salarial para o setor, que as empresas se recusaram a cumprir, ao mesmo tempo que exigem subsídios maiores do Estado.

O serviço de transporte público de passageiros é concessionado, mas subsidiado pelo Estado para manter o valor da passagem, que aumenta todo mês, e cujo mínimo em Buenos Aires atualmente é de 50 pesos (0,94 centavos, na cotação atual), um dos mais baixos da América Latina.

– ‘Lockout patronal’ –

O governo convocou uma reunião de empresários e trabalhadores do transporte com a intenção de resolver o conflito. “Lamentamos a situação gerada por este lockout patronal, que tem uma resposta dos trabalhadores quando não recebem os valores que o governo depositou nas contas das empresas e devem ser pagos conforme acordado”, alertou o ministro do Transporte, Diego Giuliano, à emissora C5N.

Em Buenos Aires, apenas o metrô funcionou nesta sexta-feira como serviço de transporte coletivo. Escolas públicas e universidades suspenderam suas atividades.

Cerca de 11 milhões de pessoas viajam diariamente nas 388 linhas de ônibus, com um total de 18.400 unidades, que percorrem a capital e sua periferia, segundo um estudo de 2019 da Universidade de San Martín. Empresas que atendem uma única linha convivem com outras, que cobrem várias linhas, enquanto cerca de 20 grandes grupos concentram quase 70% do serviço.

A situação ficou mais tensa na estação ferroviária do bairro Once, em Buenos Aires, quando um protesto surpresa se somou à greve coletiva na linha ferroviária Sarmiento. Cerca de 20 funcionários com cargo de chefia reunidos nos trilhos da estação de Castelar (40 km a oeste) impediram a partida dos trens. Por isso, a linha, na qual circulam diariamente cerca de 300 mil pessoas que transitam entre a capital e a zona oeste, ficou sem serviço por várias horas, até a metade da manhã.

Sem ônibus ou trens, cidadãos inconformados bloquearam o tráfego com cercas nas avenidas vizinhas, até serem expulsos por agentes armados da Guarda de Infantaria.

Após a suspensão da greve, no fim da tarde, pessoas aguardavam em longas filas a retomada gradual do serviço de transporte, enquanto os primeiros ônibus começavam a circular nas principais avenidas da cidade.

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