Gretchen participou de um clipe da Katy Perry.
Tá. Não foi bem isso.
Apareceu num clipe feito no Brasil com a letra da nova música.
Diz a lenda que Gretchen recebeu instruções, por mensagem, da Katy.
A internet veio abaixo.
De alguma maneira, Gretchen foi expelida do purgatório midiático em que estava amaldiçoada, vivendo apenas
em gifs animados, para um vídeo de uma das estrelas da música pop americana, num clipe semioficial.
O vídeo é lastimável, como não poderia deixar de ser.
Gretchen ostenta a face distorcida por plásticas malfeitas
e o corpo que não tem mais a elegância (má oooi!) que
teve um dia.
Evidente que Katy Perry, ou seja lá quem mandava as mensagens, usou Gretchen como uma piada.
Mas não foi assim que a internet leu o ocorrido.
O que fala muito sobre nós, brasileiros.
A grotesca imagem de Gretchen numa desesperada tentativa de arrancar das câmeras alguma sensualidade é o retrato exato de nossa política.
Cada aparição do presidente Temer, do ministro Gilmar Mendes, do senador Aécio, procura arrancar das câmeras alguma dignidade.
O espetáculo só serve para o mundo rir de nós.
São as Gretchens da política.
Em pouco mais de um mês:
1. A chapa Dilma-Temer foi inocentada pelo TSE.
Mesmo não havendo dúvida nenhuma de que se valeram de caixa 2.
2. O bandido Rodrigo Rocha Loures, pau-mandado do presidente, filmado correndo pelas ruas com uma mala contendo 500 mil corrupcínicos, foi mandado para casa.
3. Finalmente fomos coroados com o retorno de Aécio
a seu cargo no Senado. O ministro Marco Aurélio Mello mandou o neto de Tancredo de volta a sua condição de inocência.
Assim como Gretchen, que deveria ter abdicado do papel
a que se prestou, tivesse Aécio alguma dignidade, se recusaria a retornar a seu cargo.
Por quê?
Porque admitiu que pediu dinheiro a Joesley. Não é segredo nenhum, nada precisa ser provado. Aécio admitiu sua relação promíscua com um grande empresário.
É evidente que um empréstimo de dois milhões veio em troca de benesses.
Nem mesmo a irmã ou o primo de Aécio tiveram a mesma sorte.
Por causa do mesmo empréstimo, que para Aécio não rendeu nenhuma punição, seus familiares estão em casa com tornozeleiras.
Ao ver Gretchen rebolando deprimente, ocorre-me que
a tornozeleira eletrônica é a lipoaspiração da Justiça.
Coloca-se no tornozelo do criminoso e a culpa é magicamente sugada até que o canalha fique semi-inocente.
Durmo.
Em meu pesadelo, vejo toda essa gente espúria no clipe, rindo de nossa cara.
Numa coreografia de programa de domingo, Aécio, Loures, primo, irmã, Adriana Anselmo e tantos outros tornozelados cercam Gretchen como se fosse uma diva.
Rebolam e sapateiam em nossa cara.
Esfregam-se na tela sem vergonha.
“Swish, Swish, Bish” – Katy Perry canta ao fundo.
Corta para o STF inteiro dançando sobre um mapa
do Brasil.
E o Legislativo, o Executivo, os ministros.
Sapateiam como num musical da Broadway.
Acordo suado.
E, finalmente, tenho uma epifania, dessas que acontecem só uma vez na vida:
somos um meme.
Gretchen para presidente em 2018.

Ao ver Gretchen rebolando deprimente, ocorre-me que a tornozeleira eletrônica é a lipoaspiração da Justiça. Coloca-se no tornozelo do criminoso e a culpa é magicamente sugada até que o canalha fique semi-inocente


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