A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) terminou na última sexta-feira, 12, porém é inegável sua contribuição para o aprofundamento do debate ambiental. Com mais de 40 mil pessoas presentes, ela se tornou a maior COP da história — batendo até mesmo a memorável reunião em Paris em 2015, que reuniu 25 mil participantes. O encontro que ocorreu este ano em Glasgow, na Escócia, será lembrado por outro fator: a massiva presença de jovens — estima-se que pelo menos metade dos credenciados tinha menos de 30 anos. Apenas na passeata, que contou com a presença da ativista sueca Greta Thunberg, havia cerca de 25 mil jovens. No meio do mar de imberbes, pelo menos 80 brasileiros de diferentes ideologias, etnias, raças e regiões do país gritavam em uma só voz contra o governo do presidente Jair Bolsonaro e a favor de uma justiça climática onde todas as pessoas, independentemente de classe social, cor, ou credo, pudessem tomar decisões para conter a tragédia ambiental. A delegação brasileira também era composta por 40 indígenas — a maior representação desse povo na história das conferências — cuja maioria era de mulheres. “Esse espaço deveria ser mais diversificado, acessível e menos colonial. Ainda é um espaço muito segregado”, diz a indígena Txai Suruí.

A jovem Suruí se transformou no rosto da COP26 em Glasgow ao tornar-se a primeira indígena a discursar na abertura de uma conferência do clima e cobrou um posicionamento mais certeiro dos líderes mundiais. “Não é em 2030 ou 2050. É agora!”, esbravejou ela. O ativismo da jovem de 24 anos vem do berço. Pertencente à etnia Paiter-suruí, Txai é filha de Almir Suruí, uma das lideranças indígenas mais conhecidas do País e crítico do governo Bolsonaro, sua mãe Neidinha Suruí, também é ativista. Na COP, Txai lutou contra as queimadas, o desmatamento, pediu por uma maior demarcação de terras indígenas e cobrou dos governantes que cumpram as NDC (Contribuições Nacionalmente Determinadas) que visam zerar as emissões de gás carbônico para atmosfera até 2050. Mas, além disso, Txai quer ter mais reconhecimento e mais liberdade de decisão. “Nosso povo é o verdadeiro protetor das florestas e matas do Brasil e mesmo assim nos deixam de fora das negociações. Nós só somos colocados nas decisões, mas não participamos do que está acontecendo na conferência”, revela.

Além de Txai, outros cinco jovens ouvidos pela reportagem, e que estavam presentes na COP26, reivindicam mais liberdade de voz e poder de decisão. “Essa COP deixou bem claro que não é só adulto que sabe falar sério e difícil. Esse contingente está aqui para mostrar que também podemos sentar na mesa para negociar. Nós somos o futuro e seremos os mais prejudicados com essas mudanças e pelas decisões que os adultos estão tomando. Logo, nada mais certo do que a gente também dar nossos palpites”, explica Daniel Holanda, 19 anos. Pode-se dizer que os pedidos foram atendidos. Eles não só foram ouvidos, como um manifesto criado por jovens brasileiros que pede, entre outras coisas, a inclusão da educação climática nas grades curriculares do Brasil, foi lançado e apresentado a diferentes líderes mundiais. Foi a primeira vez que jovens elaboraram um projeto para apresentação pública. “Já conseguimos mais de três mil assinaturas. Precisamos de uma educação atual e de qualidade dentro das escolas. As crianças não sabem que as enchentes, inundações, ondas de frio e calor, ocorrem por questões climáticas”, diz Luan Werneck, 19, autor do manifesto.

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Na busca por essa autonomia, os jovens se orgulham em dizer que são plurais, diversificados, versáteis e verticais, ou seja, eles se complementam nas diferenças. E com isso dispensam toda e qualquer menção a rótulos. Não são de esquerda ou de direita, capitalista ou socialista, eles são ativistas ambientais ou climáticos. Foi, então, um desrespeito, na visão deles, a forma como o site da Unesco referiu-se aos jovens: “geração Greta”. “Acho errado colocar todos os jovens sob o guarda-chuva da Greta, pois somos diferentes e temos opiniões diferentes. Há muitos outros jovens, com muito menos privilégios do que ela e que vieram antes dela. Ela apenas ganhou visibilidade e mídia, o que evidencia o elitismo branco e europeu sob os povos latino-americanos”, afirma o estudante Paulo Ricardo, 26 anos. Como se vê, há bons motivos para ser otimista com essa nova geração de ativistas ambientais.