03/08/2022 - 10:18
Por Karen Braun
(Reuters) – O Brasil não começará a plantar sua próxima safra de soja até o final do mês, mas o maior produtor e fornecedor do mundo parece bem posicionado para ganhar participação nas exportações dos EUA no próximo ano, com base nos índices de colheita impressionantes.
Embora os números sejam robustos, as estimativas iniciais do mercado para a safra brasileira tendem a ser conservadoras nos últimos anos, excluindo o ciclo de seca do ano passado. Essa queda permitiu que os exportadores dos EUA este ano abocanhassem a maior fatia de cinco anos no comércio mundial de soja.
O Departamento de Agricultura dos EUA estima oficialmente a colheita de soja do Brasil em 2022/23 em 149 milhões de toneladas, acima dos 126 milhões do ano anterior, mas outras estimativas são mais agressivas. Isso inclui projeções das consultorias Safras & Mercado e StoneX, que projetou 152,6 milhões, esta semana.
Isso se compara às duas maiores safras do Brasil, de 128,5 milhões e 139,5 milhões de toneladas em 2019/20 e 2020/21, respectivamente.
Essas grandes estimativas de colheita refletiriam outro aumento na produção em relação aos níveis recentes, embora possam não ser irracionais, já que os ganhos foram mais acentuados em meados da década passada.
As previsões recentes do mercado para a próxima safra de soja do Brasil implicam pouca ou nenhuma preocupação com a capacidade dos agricultores de obter os fertilizantes necessários, em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia, principal exportador de fertilizantes. O Brasil importa cerca de 85% de suas necessidades de fertilizantes.
A escassez de fertilizantes provavelmente reduziria o potencial de rendimento, mas o Brasil parece estar recebendo o que precisa. As recentes importações do Brasil saltaram acima dos níveis médios e incluem volumes recordes de cloreto de potássio do Canadá, outro grande exportador de fertilizantes.
O Brasil negociou com a Rússia para garantir embarques de fertilizantes em meio à incerteza de fornecimento no início deste ano, apesar da pressão das sanções ocidentais.
A partir desta semana, o fornecimento de fertilizantes da Rússia, exceto amônia, voltou a níveis quase normais.
RENDIMENTO DE SUCESSO
A soja do Brasil geralmente é confiável devido às boas chuvas sazonais na maioria das áreas de cultivo, embora a safra 2021/22 tenha sido uma rara exceção devido à seca extrema no Sul. Essa safra, coletada no início de 2022, caiu cerca de 13% das ideias de pré-plantio, a maior queda em pelo menos 15 anos.
Mas, além desse valor atípico, a indústria tem subestimado o potencial de safra do Brasil nos últimos anos, e isso parece estar mais enraizado em premissas de rendimento do que na expansão da área.
Em muitos desses anos, a produção extra foi descoberta através do que parecia ser volumes de exportação brasileiros excessivamente altos. Isso até levou agências como USDA e Conab a revisar suas premissas de estoque de soja alguns anos atrás.
Os rendimentos médios brasileiros são agora maiores do que os dos EUA, e esse crescimento pode ser atribuído a muitos dos mesmos fatores que impulsionaram os rendimentos dos EUA na última década, incluindo avanços tecnológicos e melhorias nas práticas de gestão.
O forte potencial de lucro incentivou os agricultores brasileiros a aumentar rapidamente a área de soja na última década, e essa expansão apoiou os ganhos de produção nos últimos anos mais do que o aumento das produtividades.
Se o Brasil colher o recorde de 42 milhões de hectares de soja que o USDA previu para 2022/23, a área terá aumentado quase 20% em apenas cinco anos. Essa expansão de 6,9 milhões de hectares é equivalente à área combinada de soja plantada nos Estados americanos de Illinois e Indiana em 2022.
(Karen Braun é analista de mercado da Reuters. As opiniões expressas acima são dela.)