“As editoras estrangeiras se interessam pelo livro porque ele tem a capacidade de dialogar com o local e o universal” Itamar Vieira Junior, autor (Crédito:Divulgação)

Há quem associe “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, ao romance “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, ou a “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.

A comparação em si já dá uma dimensão do tamanho de sua obra: com mais de 70 mil exemplares vendidos, o livro publicado pela Todavia tornou-se um dos maiores fenômenos da literatura brasileira dos últimos anos. Além do sucesso com o público, também arrebatou a crítica: venceu os prêmios Leya (Portugal), Jabuti e Oceanos, ganhou traduções em diversos idiomas e será adaptado para o cinema ou transformado em série — os direitos já foram comprados pelo pernambucano Heitor Dhalia, proprietário da Paranoid Filmes e diretor de “Serra Pelada” e “Cheiro do Ralo”. Mais que os números na venda e o reconhecimento da crítica, “Torto Arado” representa um mergulho de cabeça no Brasil.

É o terceiro livro de Itamar Vieira Junior e revela um País árido, bem distante da vida cosmopolita das metrópoles. Seu texto forte e fluido inspira nos leitores a sensibilidade necessária para compreender o povo brasileiro e sua relação com o nosso território. Conta a história das irmãs Bibiana e Belonísia, nascidas e criadas em uma fazenda no sertão da Bahia, na Chapada Diamantina. Narrado por elas, a obra traz reflexões sobre o período escravocrata e os problemas que vieram com o fim da escravidão — e que nunca foram resolvidos. “Viajei muito, conheci muitas pessoas e histórias. Algumas tristes, mas outras de muita resistência. As editoras estrangeiras se interessam pelo livro porque ele tem a capacidade de dialogar com o local e o universal”, afirma Itamar Vieira à ISTOÉ. “É o poder que a literatura tem de nos deslocar para o local do outro e criar empatia.”

O amor pelo livro levou seus leitores a homenagens extremas: Luiz Gustavo Moreira, vendedor da Livraria da Vila, em São Paulo, chegou a fazer um tatuagem da capa na perna: “esse livro é a história da minha infância”, diz. Itamar consegue atrair aqueles que têm a terra como parte de suas vidas e até os que não a conhecem, mas a mensagem do livro é clara: “Sobre a terra há de viver sempre o mais forte”.