O economista Roberto Campos Neto, indicado para a presidência do Banco Central, tratou nesta terça-feira, 26, em resposta a senadores, do spread bancário no Brasil. Segundo ele, grande parte do spread no País não se deve ao lucro dos bancos, mas a outros fatores que elevam os custos. “Em outros países, o componente lucro é maior que no Brasil”, disse ele, que participa nesta data de sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Campos Neto reconheceu ainda que, até 2016, o Brasil foi um dos poucos países que tiveram aumento do spread bancário. “Após 2016, iniciou-se um trabalho muito elaborado no BC para reduzir o spread”, pontuou.

Entre os fatores que contribuem para um spread maior, Campos Neto afirmou que, atualmente, os agentes financeiros no Brasil têm menos informações que seus pares em outros países. “Tema da informação é importante. No Brasil, existe informação assimétrica muito grande”, afirmou.

“Na parte de informação, temos o cadastro positivo, que é uma forma de disseminar a informação. Temos alguns projetos futuros. E temos que deixar claro que a informação do cliente é dele”, acrescentou, em referência ao que pode ser feito para melhorar a questão da informação antes de o empréstimo ser concedido.

Campos Neto afirmou ainda que, concedido o empréstimo, há um “problema maior” relacionada ao spread. “Por que a inadimplência caiu e o custo não baixou? Não baixou porque a parte depois do recurso contratado continua problemática”, disse. “De cada R$ 1 emprestado, recupera-se R$ 0,13.”

O economista afirmou que este problema de recuperação de créditos será endereçado pelo BC. “Temos projetos sobre isso na Casa e temos também projetos dos quais vou falar no futuro”, pontuou.

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Campos Neto citou propostas apresentadas pelo BC de Ilan Goldfajn que já tratam da questão da recuperação de crédito, como os projetos das duplicatas eletrônicas e de centralização de recebíveis.

Outro grande componente do spread, conforme Campos Neto, é o custo operacional. Ele citou os compulsórios, o crédito direcionado, o custo de financiamentos e a parcela operacional como fatores que atuam neste custo operacional. “E o Brasil também é um dos últimos, um dos (países) mais caros no custo operacional”, salientou. “Existe espaço para remodelar mais o compulsório, o que vamos fazer no longo prazo, mas é importante falar que o compulsório não tem tanto impacto”, disse.

O economista afirmou ainda que o governo atual tem a intenção de fazer uma “reforma burocrática”, o que influenciará o custo do crédito. Além disso, Campos Neto defendeu o uso do dinheiro digital e outras iniciativas para fomentar o crédito, como o mercado de capitais e o estimulo à desintermediação.

“Mercado de capitais não é banco. Precisamos fomentar o mercado de capitais. Hoje, pequenas empresas não têm acesso ao mercado de capitais”, disse Campos Neto. “O maior instrumento democratizante do século está aqui (apontou para o celular), a tecnologia. É importante os senadores entenderem que, se há estímulo à tecnologia, e intermediação grande, a tecnologia será a maior plataforma para desintermediação.”

Neste aspecto, Campos Neto citou o open banking, “que é o cliente ser dono do próprio dado, abrindo para todas as instituições”. O economista citou ainda a necessidade de diminuir a burocracia. “A pequena empresa hoje não tem acesso ao mercado de capitais. Falamos pouco de cooperativas. Não falamos de microcrédito, que é uma modalidade interessante”, completou.

Concentração do setor

O economista indicado para a presidência do Banco Central admitiu que o setor bancário no Brasil é concentrado, mas alegou que mesmo assim existe competição no mercado. Apesar do crescimento dos lucros dos bancos, ele avaliou que ainda há espaço para ampliar a rentabilidade das instituições financeiras. “Precisamos distinguir competição e concentração. Na crise de 2008, vários países aceitaram uma troca de mais concentração por mais segurança, vários governos estimularam isso no sentido de um sistema mais concentrado, porém mais sólido”, alegou.

Segundo Campos Neto, a concentração bancária brasileira é parecida com a de outros países desenvolvidos, como Alemanha e Itália, além de outras economias emergentes. “Reconhecemos que o mercado brasileiro é concentrado, mas dá pra dizer que há competição”, argumentou.

O economista voltou a apostar no crescimento das chamadas fintechs de crédito como uma das alternativas para aumentar a competição no setor. “O mercado de fintechs praticamente não existia dois anos atrás e hoje já são mais de 300 empresas. Imagine daqui a dois anos; isso é exponencial. Esse aumento da competição já está acontecendo, e temos que monitorar para que esse processo seja feito de forma saudável”, completou.

Sobre as críticas de senadores de que o aumento dos lucros dos bancos não tem sido revertido em juros menores aos consumidores, Campos Neto explicou que apenas o lucro não é uma boa métrica para avaliar o desempenho das instituições. “É preciso olhar o retorno sobre o capital empregado. O retorno dos bancos já foi maior que 19%, caiu para 12%, e agora voltou para algo em torno de 15%. Apesar dos lucros maiores, a rentabilidade ainda está longe do máximo”, rebateu.

O indicado para a presidência do BC previu ainda que os bancos deixarão de ser empresas de serviço financeiro para passarem a ser empresas de serviços tecnológicos. “O banco do futuro será cada vez mais digital. O Brasil precisa melhorar a cobertura digital, País ainda tem buracos de cobertura que impedem a competição digital em locais mais remotos”, completou.


Campos Neto participa nesta terça-feira de sabatina na CAE do Senado. A expectativa é de que seu nome seja aprovado ainda nesta data na comissão e no plenário do Senado. Também passam por sabatina Bruno Serra Fernandes, que ocupará a Diretoria de Política Monetária, e João Manoel Pinho de Mello, que será o titular da Diretoria de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução do BC.


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