Transformar a Serra Gaúcha em um polo de inovação. Quando o jovem Marcus Rossi decidiu criar um evento de tecnologia e empreendedorismo no interior de Gramado, ele foi chamado de louco. Afinal, Gramado sempre foi conhecida nacionalmente como um dos principais destinos turísticos do Brasil. Cerca de 85% do PIB da cidade é proveniente do turismo, mas o empreendedor queria desafiar esse modelo e trazer alternativas para a matriz econômica da região.

“Sou natural de Gramado e sempre acreditei que inovação não precisa de CEP para acontecer. Cidades pequenas acabam muitas vezes perdendo talentos e possíveis empreendedores para grandes cidades. Nós queremos mudar esse cenário”, explica.

Realizar a primeira edição do evento, que Marcus chamou de Gramado Summit, foi desafiador. Inspirado na Web Summit (maior conferência do mundo na área de tecnologia), o empreendedor queria reunir startups em estágio inicial e marcas já consolidadas no mercado em um mesmo ambiente. O objetivo era nivelar a inovação, mostrando que o trabalho de empresas gigantes e de pequenos empreendedores pode ter o mesmo valor.

“Eu recebi muitos nãos no começo, mas também tive muitos parceiros que acreditaram na minha ideia de descentralizar o bate-papo de inovação para além das grandes capitais. Neste começo, as early stage startups abraçaram a ideia e apoiam o ecossistema que criamos até hoje”, conta o CEO.

Foi pelo esforço para convencer empreendedores gaúchos que Marcus concretizou o sonho e realizou a primeira edição do evento, em agosto de 2017. Na época, foram cerca de 800 visitantes, 40 palestrantes e 1.200 m² de área construída no interior da cidade.

Para desenvolver a Gramado Summit, o empreendedor trouxe seus conhecimentos da época em que trabalhou na empresa de sua família. “O ramo da empresa da minha família é a organização de eventos, o que me deu expertise para que eu soubesse fazer eventos e, mais do que isso, para que eu aprendesse a gostar de fazer o que faço e entregar algo a mais”, comenta Marcus.

Na época, antes de ganhar notoriedade, o negócio começou justamente com o apoio financeiro de apenas R$ 30 mil da empresa familiar, que foram devolvidos já após a primeira edição. Até hoje, um dos orgulhos de Marcus é dizer que o crescimento da Gramado Summit não contou com investimentos externos para sustentar o desenvolvimento do evento  – uma prática conhecida no mundo empreendedor como bootstrapping. Mas, com a escala alcançada do evento, era necessário ir além.

Criação de empresa e novos produtos

A transição que levou o evento a se tornar uma empresa aconteceu durante a segunda edição. Com o sucesso do primeiro ano e os holofotes do mercado voltados para a edição de 2018, Marcus criou a Summit Hub. É ela quem assina a Gramado Summit desde aquele período. Junto com a criação de um CNPJ, o empreendedor contratou uma equipe de funcionários fixos que trabalham ao longo de um ano inteiro para a realização do evento. O time conta com setores de vendas, marketing e tecnologia.

Entretanto, o sonho de Marcus ia além. Ele queria criar um verdadeiro ecossistema de inovação e, para isso, precisou desenvolver outros produtos. Um portal de conteúdo para empresas, chamado Start, e uma série de eventos pockets, nomeados Summit Talks, foram lançados em 2018. Em 2020, esses eventos itinerantes estarão em grandes capitais brasileiras, como São Paulo, Curitiba e Florianópolis. “A experiência de descentralizar a inovação, que tivemos com a Gramado Summit, acaba sendo levada para tantas outras regiões por meio dos nossos Talks. Assim conseguimos mostrar nosso propósito pelo Brasil todo”, ressalta.

Outro projeto em fase de desenvolvimento pela empresa é o Projeto Iris. Trata-se de um aplicativo modular para eventos, que será disponibilizado gratuitamente para organizadores, permitindo experiências de pagamento cashless. Para os usuários, o aplicativo terá funcionalidades como agendamento de reuniões, chat instantâneo e visualização de trilhas de conteúdo em uma interface intuitiva. O projeto será testado durante a edição da Gramado Summit 2020, que ocorre de 5 a 7 de agosto. Hoje, a Summit Hub fatura cerca de R$ 10 milhões por ano e é avaliada em mais de R$ 15 milhões.

Ascensão e internacionalização do evento

Somando os outros produtos da empresa, a Gramado Summit ganhou mais fôlego no país. A última edição colocou o evento em um novo patamar de visibilidade. Somente em número de participantes, o crescimento foi de 400%. Os 800 visitantes de 2017 passaram para  4 mil no último ano.

Além disso, o evento teve participantes de praticamente todos os estados brasileiros, bem como de países outros da América Latina. Ainda, a Gramado Summit deu um grande passo para a sua internacionalização. Os governos de Canadá, Mônaco e Hong Kong estiveram expondo na feira de negócios.

Já em termos de empresas expositoras, foram cerca de 100 em 2019. “Conseguimos reunir grandes marcas e pequenos projetos em uma mesma feira, oportunizando conexões e geração de negócios”. Conforme explica Marcus, isso ocorre porque a Gramado Summit é um dos eventos que mais gera negócios no país. “Vamos além de uma exposição de marca na feira. Nós geramos resultados efetivos para nossos clientes. Isso também é fruto do modelo de mantenedores que desenvolvemos, com entregas variadas para as empresas que apostam em nós”, conta.

Agora, a meta do evento é alcançar números ainda maiores e consolidar a região como um polo de inovação e tecnologia. Para 2020, são esperadas 200 empresas, 8 mil visitantes, 140 palestrantes e uma área construída de 20 mil m². “É um orgulho dizer que crescemos 1.000% em apenas quatro edições”, avalia Rossi.