24/04/2020 - 12:30
Estádio da Copa, centro cultural, aeroclubes, contêineres, hospital veterinário e até complexo penitenciário. Dezenas de espaços pelo País estão ganhando novo uso durante a pandemia do coronavírus ao serem transformados em hospitais de campanha para receber o crescente número de pacientes.
Levantamento do jornal O Estado de S. Paulo identificou ao menos 108 iniciativas de prefeituras, de governos estaduais e da União em 19 Estados e no Distrito Federal, somando cerca de 13,9 mil leitos de enfermaria e UTI disponíveis, em implementação ou em planejamento. As iniciativas são inspiradas em exemplos internacionais, como o da China, e em recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em meio à pandemia, até o Central Park, em Nova York, vai ganhar uma estrutura.
Na Bahia, por exemplo, a gestão estadual aproveitou a estrutura de três hospitais privados que estavam fechados, além de outros espaços de clubes, somando 673 leitos em duas cidades. No Distrito Federal, os hospitais serão erguidos no Estádio Mané Garrincha e no Complexo Penitenciário da Papuda, com total de 240 leitos.
As iniciativas são de porte e proposta variados, que vão de poucas dezenas a alguns milhares de leitos. As estruturas foram adotadas desde as capitais, que concentram a maioria dos casos, até municípios de menor porte, como Salinas (MG), de 40 mil habitantes, com 80 leitos previstos para atender pacientes em um hospital veterinário.
Na capital paulista, o Complexo do Anhembi e o Pacaembu foram adaptados para receber 2 mil leitos, mas a Prefeitura planeja montar mais uma estrutura na zona leste (entre locais em estudo estão Sesc Itaquera e estádio do Corinthians). O Riocentro é a maior aposta da prefeitura carioca, com capacidade para 500 leitos. Iniciativas de maior porte se concentram nas regiões mais afetadas, que estão com os sistemas de saúde à beira do colapso, embora parte do investimento continue a ser em leitos de enfermaria.
No âmbito federal, o primeiro hospital de campanha teve obras iniciadas no dia 7, em Águas Lindas (GO), a 50 quilômetros de Brasília. Outros 80 imóveis da União em 27 Estados foram reservados pelo Ministério da Economia para receber hospitais de campanha, incluindo o Parque Olímpico do Rio e o Pátio do Pari, na capital paulista. A criação das estruturas será avaliada “conforme a necessidade da população”.
A médica Ana Maria Malik, coordenadora do FGVSaúde, diz que ampliar o atendimento depende de investimentos maiores do que aumentar leitos de enfermaria. “Não adianta ter a cama se não for acompanhada de hospital equipado, se não tiver intensivista (médico especializado em pacientes em estado crítico), enfermeiro, fisioterapeuta que saiba lidar com problema respiratório.”
Professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Airton Stein ressalta que a instalação de hospitais de campanha exige investimento em estrutura temporária e, portanto, a primeira alternativa deverá ser a avaliação da infraestrutura já existente.
Em Salgueiro (PE), de quase 60 mil habitantes, por exemplo, optou-se por reformar um prédio público, com custo de R$ 58 mil, somados os valores para montagem de estruturas.
Novo espaço
A gestão João Doria (PSDB) está à procura de um espaço para instalar 200 leitos de UTI para pacientes graves com suspeita e confirmação da covid-19. O chamamento foi publicado na semana passada e a expectativa é de divulgar o escolhido ainda esta semana. “Pode ser área de exposição, hotel, desde que tenha capacidade, porque UTI tem de ter ambiente climatizado, com filtragem de ar e pressão negativa (tipo de isolamento para prevenir contaminações)”, explica Adhemar Dizioli Fernandes, coordenador-geral de Administração da Secretaria Estadual da Saúde.
Antes disso, em 1.º de maio, o Estado pretende inaugurar o hospital de campanha do Complexo do Ibirapuera, para 268 pacientes. E o Ambulatório Médico de Especialidades de Heliópolis, zona sul, será adaptado para receber apenas pacientes de covid-19, com 176 leitos de enfermaria e 24 de UTI.
Arquiteto e urbanista, Fernandes explica que a prioridade é ampliar a capacidade na capital e região metropolitana, pela concentração dos casos. Se a situação se agravar no interior, acredita não ser difícil encontrar espaço adaptável. “Todo lugar tem um campo de futebol, que, para a gente, é perfeito.”
Em âmbito municipal, ao menos 23 prefeituras paulistas abriram ou preparam a inauguração de hospitais de campanha. A lista inclui Guarulhos, Osasco e Cotia (que tem até uma espécie de atendimento drive thru para triagem), o litoral (Guarujá) e municípios do interior, como São João da Boa Vista, que utiliza 15 contêineres. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.