O diálogo de paz sobre a Síria, que deve começar esta semana em Genebra, está no limbo diante da falta de confirmação da participação do governo de Damasco, que informou à ONU que nenhuma delegação chegará nesta segunda-feira (27).

A oitava rodada de diálogos, que deve começar na terça-feira, é vista como uma oportunidade para avançar até o fim da guerra civil na Síria – que já dura seis anos -, depois que a oposição enviou uma delegação.

O emissário da ONU Staffan de Mistura anunciou nesta segunda no Conselho de Segurança que continuava sem a confirmação da chegada a Genebra de representantes do governo sírio para a nova rodada.

“O governo ainda não confirmou a sua participação nas negociações em Genebra, mas indicou que entraria em contato conosco em breve”, declarou De Mistura em videoconferência com o Conselho de Segurança.

“À noite recebemos uma mensagem que indicava que o governo não iria hoje (segunda-feira) para Genebra. Evidentemente queremos e esperamos que o governo esteja pronto logo”, acrescentou.

“Se ambas as partes chegam a Genebra, podemos começar as discussões de fundo e espero que também as negociações”, acrescentou De Mistura, que comemorou o fato da oposição síria chegar “unida” a Genebra após um processo de diálogo na Arábia Saudita.

“Não aceitaremos nenhuma condição prévia das duas partes”, insistiu o emissário. “Espero que ambas as partes compreendam nossa mensagem”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu homólogo francês, Emmanuel Macron, concordaram nesta segunda-feira “sobre a importância do processo apoiado pela ONU em Genebra como o único fórum legítimo para alcançar uma solução política na Síria”.

De acordo com a Casa Branca, Trump e Macron também discutiram a necessidade de “enfrentar e reverter as atividades desestabilizadoras do Irã na região”.

– Reunião de cinco –

Na terça-feira haverá uma reunião dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança em Genebra por iniciativa da França, anunciou De Mistura, detalhando que participará desta “reunião preparatória”.

Esse encontro entre representantes de Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido parece expressar a vontade das grandes potências de voltar a tratar o tema da Síria diante da diplomacia ativa de Moscou e de suas vitórias militares em apoio ao governo sírio. A abordagem diplomática e militar russa é apoiada por Irã e Turquia.

Staffan de Mistura também disse ao Conselho que “mais de 200 representantes da sociedade civil síria estarão presentes em Genebra nas próximas semanas”.

Também haverá especialistas em direitos humanos para tratar sobretudo das detenções e dos desaparecimentos na Síria, além de expertos em assuntos constitucionais, acrescentou.

O representante da ONU para a Síria fixou quatro temas para a ordem do dia da oitava sessão de diálogos inter-sírios: colocação em vigor de um “governo crível, inclusivo e não sectário”; elaboração de uma nova Constituição em “um processo inclusivo” com um “diálogo ou conferência nacional”; preparação de eleições “sob a supervisão das Nações Unidas”; e discussões sobre “a luta contra o terrorismo”.

– 250 bilhões –

“Como mediador quero garantias sobre a maneira como as partes irão negociar e a forma como trabalham positivamente para colocar em prática as negociações. E, para isso, pouco importam as declarações públicas sobre os temas”, afirmou De Mistura.

“Sabemos muito bem que há diferenças entre o que se diz em público e o que acontece nas negociações”, assegurou. “É totalmente possível dizer coisas que não agradem a outra parte, com a condição de não fixar exigências prévias. Essa é a essência das negociações”.

Após “seis anos de guerra e a metade da população tendo abandonado o país”, a “reconstrução irá custar 250 bilhões de dólares”, assinalou. “Há inúmeros obstáculos, um amplo espectro de atores, interesses divergentes, um verdadeiro perigo de compartimentação de territórios e uma ameaça à integridade territorial” da Síria, opinou.

A violenta repressão das manifestações a favor da democracia por parte do governo de Bashar al-Assad, estopim da guerra civil, e a intervenção de potências internacionais deixaram desde março de 2011 mais de 340 mil mortos e milhões de deslocados e refugiados.