Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) – O governo avalia que não há expectativa de queda significativa do preço da soja no mercado internacional mesmo que haja uma supersafra mundial da commodity a ponto de alterar o “elevado patamar de preço do biodiesel”, disse o Ministério de Minas e Energia nesta quinta-feira, ao justificar novamente sua decisão de reduzir a mistura do biocombustível prevista para 2022.

A soja, principal item do agronegócio brasileiro, é também matéria-prima de cerca de 75% do biocombustível.

Em nota, o Ministério de Minas e Energia respondeu as críticas recebidas do setor de biodiesel após ter anunciado no início da semana decisão de manter o teor de 10% de biodiesel no diesel para todo o ano de 2022, citando valores elevados do produto.

“A decisão visa proteger os interesses do consumidor quanto ao preço, qualidade e oferta dos produtos”, disse a pasta nesta quinta-feira. “O biodiesel manteve preços médios, ao longo de 2021, equivalentes ao dobro do preço do diesel A (proveniente exclusivamente do petróleo).”

“Tal diferença de preços, quando aliada a altos percentuais de biodiesel na mistura, tem forte potencial de impacto na economia do país, dada a relevância do modal rodoviário, com reflexos diretos no aumento da inflação, principalmente neste momento de retomada pós-pandemia do Covid-19.”

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Além disso, o ministério disse que a redução do preço do diesel permitiria queda dos preços de fretes e, assim, de todos os produtos que são transportados no modal rodoviário.

Em nota conjunta, integrantes do setor de biodiesel chegaram a afirmar que a medida “destrói programa nacional de biodiesel… e dá um sinal contrário aos compromissos estabelecidos na COP26”.

Sobre esse tema, o ministério afirmou que não há qualquer contradição entre os compromissos assumidos pelo Brasil na COP26 e a manutenção do B10.

“Na estratégia nacional de neutralidade climática, apresentada na COP26, o Brasil se comprometeu a utilizar renováveis no ciclo diesel, incluindo biodiesel, diesel verde e parcela renovável do diesel de coprocessamento, em bases econômicas”, afirmou.

“Importa ressaltar que o Brasil é um dos países com a matriz energética mais limpa do mundo, sendo 48% renovável, equivalente a mais de três vezes a média mundial; e que o conceito de sustentabilidade engloba aspectos econômicos, sociais e ambientais, inexistindo meta para atingimento do B15 na estratégia nacional de neutralidade climática.”

Na véspera, integrantes da indústria de biodiesel e da soja afirmaram não terem se rendido à decisão governamental e disseram que acreditavam em uma reversão da medida assim que o presidente Jair Bolsonaro tivesse todas as informações sobre os custos e prejuízos.

A indústria defende que se preparou para uma mistura de 14% de biodiesel que vigoraria a partir de março do ano que vem e que uma redução desse percentual causaria prejuízos devido a investimentos feitos e dos empregos que seriam gerados, além dos gastos importação de diesel. Além disso, apontaram outros impactos para a indústria de agronegócios.

Na nota, o ministério disse ainda que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) reafirma a importância e o seu compromisso com a Política Nacional dos Biocombustíveis e que o mercado permanecerá monitorado permanentemente.

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