RESUMO

• Presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, está em processo de fritura
• Ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) querem a estatal mais alinhada às metas do governo
• O calo mais visível é a pressão pela redução dos preços dos combustíveis
• Planalto quer ainda que a estatal financie projetos de infraestrutura do Novo PAC
• Receio é a volta do aparelhamento político da estatal e a da corrupção

Em meio a articulações mais ou menos silenciosas surgidas dentro dos gabinetes dos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil) para que o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, seja defenestrado do cargo, o comando da estatal, numa tentativa de tentar colocar panos quentes no conflito, anunciou um ambicioso plano de negócios de US$ 102 bilhões (R$ 510 bilhões) em projetos, valor 31% superior ao que havia sido anunciado anteriormente para o quadriênio 2023-2027.

Dentro dessa estratégia de tentar apaziguar os ânimos na Esplanada dos Ministérios, Prates também tem relaxado as regras para a participação de políticos na direção da empresa. Mas as iniciativas devem ter efeito apenas momentâneo na diminuição da temperatura do seu processo de fritura, já que o presidente da estatal segue em rota de colisão com os dois ministros:
ao não ceder aos apelos do Planalto na discussão sobre a redução no preço dos combustíveis, desagrada Silveira;
ao resistir a uma reorientação do plano estratégico da empresa explicitamente para atender as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), pisa no calo de Rui Costa, a quem cabe gerenciar o projeto governamental.

O Palácio do Planalto pressiona a Petrobras em relação à redução no preço dos combustíveis. A ideia, vocalizada publicamente por Silveira, é tentar reduzir o preço de derivados de petróleo nas refinarias, já que a cotação no mercado internacional está em queda.

Em entrevista à Globonews, disse ver “possibilidade real” de que houvesse redução de até R$ 0,42 no preço do litro do diesel, e de até R$ 0,12 no litro da gasolina. “Fiz essa manifestação ao ministro da Casa Civil”, revelou na ocasião. “Respeitando a governança da empresa e sua natureza jurídica, mas já está na hora de puxarmos de novo a orelha da Petrobras”.

Por sua vez, Prates respondeu por meio das redes sociais que, se o ministério de Silveira quiser orientar a Petrobras a baixar os preços, precisa seguir ritos específicos previstos na Lei das Estatais e no estatuto da companhia.

Com o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente da estatal apresentou ao presidente Lula os dados da companhia e conseguiu convencê-lo de que ainda não é o momento de repassar ao consumidor a queda no preço do barril do petróleo. Isso até que sejam compensadas as perdas da empresa relativas ao período em que o valor no mercado internacional estava em alta, mas a companhia segurou os preços por aqui.

Em um passado recente, o aparelhamento político que Prates tenta agora evitar mergulhou a companhia em um enorme escândalo de corrupção

Foco em infraestrutura

A discussão sobre os combustíveis é a face mais visível da queda de braço com Prates, mas o ponto nevrálgico da relação do Palácio do Planalto com o presidente da Petrobras segue sendo outro: o interesse do governo em que a estatal financie projetos de infraestrutura do Novo PAC que o governo não tem como bancar sozinho.

O programa é uma espécie de vitrine do governo: a lógica é investir em obras, obsessão do presidente Lula, o que resulta na criação de empregos.

A maior pressão sobre Prates hoje se dá em especial, portanto, por parte de Rui Costa, responsável pelo Novo PAC. Para descontentamento do titular da Casa Civil, ao anunciar seu plano de negócios, a estatal informou que pretende investir R$ 9,18 bilhões (9% dos US$ 102 bilhões previstos) em projetos verdes.

Embora ainda não tenham sido detalhadas, essas iniciativas devem contemplar investimentos em energia eólica e solar, hidrogênio e em captura e armazenamento de carbono.

Não são projetos de curto prazo, que possam resultar de imediato na criação de novas vagas no mercado de trabalho. E em razão disso, muito dificilmente renderão dividendos eleitorais a Lula.

Fragilizar Prates também interessa a Rui Costa e a Alexandre Silveira porque, na busca pela ampliação de espaços de poder, ambos gostariam de indicar seu sucessor.

Governo frita Prates na Petrobras em fogo alto
Rui Costa: responsável por gerenciar o PAC, titular da Casa Civil se uniu a Alexandre Silveira nas críticas à gestão da Petrobras (Crédito:Rafael Vieira)

Por ora, portanto, segue a queda de braço entre o governo, que adoraria usar a Petrobras para financiar grandes projetos de infraestrutura, e Prates, que tenta se equilibrar entre os interesses do governo ao mesmo tempo em que defende que a companhia diversifique sua estratégia de atuação rumo a investimentos em energia renovável, embora a maior parte dos investimentos da estatal — 72%, o que equivale a US$ 73,4 bilhões — tenha como destino a exploração e produção de petróleo, com foco no pré-sal num momento em que o mundo discute a transição energética.

A ver se Prates vai ser apeado do cargo, como querem Costa e Silveira, ou se vai ceder ainda mais às sucessivas pressões vindas do Palácio do Planalto para se manter no comando da companhia. Capitular seria um péssimo sinal — de que o aparelhamento político que mergulhou a estatal em um enorme escândalo de corrupção em um passado recente segue como uma imposição.