O governo francês esperava, neste domingo (16), que o acentuado declínio da mobilização dos “coletes amarelos” visto ontem seja o prenúncio do final deste movimento social sem precedentes, iniciado há um mês e que abalou a presidência de Emmanuel Macron.

O quinto sábado de manifestações reuniu a metade das pessoas nas ruas francesas, marcando, segundo Jerome Sainte-Marie, pesquisador do instituto framcês Pollingvox, “o fim de um ciclo de mobilização”.

“Uma etapa foi superada, certamente, e eu acredito que é do interesse de todos, incluindo dos coletes amarelos”, declarou neste domingo o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer.

Desde 17 de novembro, os “coletes amarelos” – movimento de franceses reivindicando mais justiça social – bloquearam estradas em toda a França.

Ainda que nem todos os bloqueios tenham terminado, o governo francês não esconde seu alívio. “Chegou a hora do diálogo”, afirmou no sábado o presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand.

“As estradas devem ser liberadas e a segurança de todos será restabelecida”, acrescentou o ministro do Interior, Christophe Castaner. Desde o início do movimento, oito pessoas morreram à margem dos bloqueios e manifestações.

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Mas está fora de questão reivindicar vitória e muito menos concluir a derrota dos “coletes amarelos”, que conseguiram muito mais do que os sindicatos ou partidos da oposição antes deles.

Anulação de um imposto sobre combustível, congelamento das tarifas de eletricidade e gás, aumento de 100 por mês para os assalariados que recebem um salário mínimo, cancelamento de um aumento do imposto sobre as aposentadorias… a lista de concessões feitas por Macron é longa.

Depois quatro sábados de manifestações em Paris e outras cidadades, muitas delas marcadas pela violência, “a situação está se acalmando, mas o que resta é um ódio muito forte de Emmanuel Macron”, estima Hervé Le Bras, da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS).

“Eles conseguiram fazer recuar um governo que parecia muito forte”, aponta Jerome Sainte-Marie. “O movimento está enfraquecendo, mas o Executivo também”, escreveu o Journal du Dimanche.

O semanário francês publicou neste domingo uma pesquisa sobre a popularidade do presidente Macron, que caiu para 23% de “satisfeitos” (-2 pontos) e 4% de “muito satisfeitos” (estável), contra 76% de “descontentes” (+3 pontos).

Emmanuel Macron “terá agora de ser mais cuidadoso com intermediários, sindicatos ou prefeitos, e até mesmo com os franceses”, acredita o pesquisador francês Jean-Daniel Levy, da Harris Interactiv.

Depois do imposto sobre os combustíveis, as reivindicações dos “coletes amarelos” rapidamente se estenderam para o poder de compra, antes de transbordar sobre outros temas. No sábado, os manifestantes exigiam a organização de um “RIC”, um referendo de iniciativa cidadã, como acontece na Itália ou na Suíça.

As várias e por vezes contraditórias exigências de um movimentotão desestruturado como o dos “coletes amarelos” tornam muito difícil qualquer previsão do seu futuro e possíveis saídas políticas.

Mas para Jérôme Sainte-Marie, um retorno à situação anterior a 17 de novembro está excluído e o Executivo tem um interesse real em cumprir suas promessas.

“Se as medidas relativas ao poder de compra não forem aplicadas, há um risco de retomada da mobilização muito importante porque as pessoas se conscientizaram de seu poder”, diz ele.

A desmobilização também é vista com alívio pela economia francesa e especialmente pelas pequenas empresas, que, na com a aproximação da festas de final de ano, sofreram muito com os protestos.


O presidente da Confederação de comerciantes da França estimou no sábado que o movimento representou “um verdadeiro desastre” para eles, com um declínio no volume de negócios entre “40% e 70%”.


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