Coluna: Guilherme Amado, do PlatôBR

Carioca, Amado passou por várias publicações, como Correio Braziliense, O Globo, Veja, Época, Extra e Metrópoles. Em 2022, ele publicou o livro “Sem máscara — o governo Bolsonaro e a aposta pelo caos” (Companhia das Letras).

Governo fala muito nas redes, mas não atinge quem mais precisa

Elaborado para o governo, o Índice Brasil de Impacto Digital (iBR) evidenciou os problemas da comunicação

Ricardo Stuckert / PR
Foto: Ricardo Stuckert / PR

Com 167 canais oficiais de comunicação nas redes sociais, o governo federal acumulou mais de 43 milhões de seguidores, 1,2 bilhão de visualizações e 9,2 milhões de interações nos primeiros 45 dias do ano. Mas os números estão longe de alcançar as pessoas que usam serviços e dependem de programas e políticas públicas.

A conclusão é do Índice Brasil de Impacto Digital (iBR), desenvolvido para o governo pela agência de estratégia digital DSC LAB. O índice mede o impacto e a presença digital do governo nas principais redes sociais e plataformas digitais a partir de fatores como engajamento, alcance, relevância e influência. O relatório, ao qual a coluna teve acesso na íntegra, será lançado na quinta-feira, 13.

Para mostrar a necessidade de ampliar o alcance do governo, o relatório traz comparações. O Bolsa Família, por exemplo, tem 50 milhões de beneficiários, e a Previdência Social, 39 milhões. Ou seja, os principais serviços e programas sociais têm uma base de usuários muito maior do que o alcance do governo nas redes. Outro ponto: o SUS tem 8 milhões de atendimentos diários. Em apenas cinco dias, ele atende mais pessoas do que todas as interações registradas nos canais oficiais durante o período analisado (9,2 milhões de interações em 45 dias).

A principal crítica do relatório é a ineficiência do governo em falar com a população mais carente e atingir o público de usuários de serviços governamentais. Em plena crise econômica, ministérios de serviços como Trabalho e Emprego e Previdência estão com o pior desempenho nas redes.

A análise foi feita nos primeiros 45 dias do ano, quando a aprovação de Lula começou a despencar e a crise do Pix se alastrou nas redes. O iBR apontou também para a dificuldade de reação do governo.

Governo fala muito nas redes, mas não atinge quem mais precisa

“A crise do Pix, desencadeada em janeiro de 2025, evidenciou a vulnerabilidade da comunicação digital do governo federal diante da mobilização da oposição e da disseminação de desinformação. A reação negativa à instrução normativa da Receita Federal, que estabelecia um novo critério de monitoramento de transações financeiras, teve repercussões diretas na aprovação do presidente Lula, com pesquisas apontando que, pela primeira vez no mandato, a reprovação superou a aprovação”, afirma o relatório.

Outro ponto destacado é a má utilização das ferramentas das plataformas e a subutilização do YouTube, que tem 144 milhões de usuários no Brasil (66,3% da população):

“O YouTube é outro ponto de atenção. Segundo em usuários no país, oferece opções de formatos rápidos (Shorts) que concorrem com os Reels, do Instagram, e com o próprio TikTok. Mas continua sendo usado predominantemente como repositório nos canais dos ministérios, com conteúdo institucional e pouco interessante para o cidadão do outro lado da tela do celular.”

Uma questão levantada é o baixo protagonismo de Lula nas redes. As menções a Lula pelos perfis dos ministérios são muito protocolares, e a concentração está na rede de menor impacto, o X/Twitter, que tem 19 milhões de usuários.

“Enquanto o Twitter concentrou grande parte das interações, plataformas de maior alcance, como Instagram e Facebook, tiveram um nível menor de engajamento relacionado diretamente à figura presidencial”, diz o texto.

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