Governo espanhol chama de ‘racista’ moção municipal que dificulta festas muçulmanas

A moção adotada por um município espanhol governado pela direita, que impede festividades religiosas em instalações esportivas municipais e que dificultará algumas celebrações muçulmanas, é “absolutamente racista”, afirmou, nesta quinta-feira (7), uma ministra do Governo nacional de esquerda, somando-se à polêmica provocada pela medida.

“É uma moção absolutamente racista”, disse a ministra das Migrações, Elma Saiz, à TV pública TVE, sobre esta medida da Prefeitura de Jumilla.

Jumilla, cidade de 27.000 habitantes da região de Murcia, no sudeste do país, é conhecida pelo vinho que produz e, assim como toda a área, abriga uma importante população muçulmana, que trabalha principalmente no setor agrícola.

“Estaremos muito vigilantes para, evidentemente, proteger e acompanhar a população”, alertou Saiz, ministra do Governo de Pedro Sánchez, sobre esta medida aprovada na véspera pelo Partido Popular (conservador), com a abstenção do Vox (extrema direita), que defendia um texto mais rígido.

A medida foi uma proposta e uma condição do Vox para apoiar o orçamento municipal da prefeita do PP, e proíbe a celebração de ritos religiosos em instalações esportivas municipais.

Isto significa que festividades muçulmanas, como a do sacrifício do cordeiro e a do fim do mês de jejum sagrado do Ramadã não poderão ser celebradas nestes espaços, como acontecia até agora.

A polêmica acontece depois que outro município murciano, Torre Pacheco, viveu, em meados de julho, várias noites de distúrbios provocados por grupos de extrema direita, depois que um aposentado denunciou, com o rosto machucado, ter levado uma surra de três jovens de origem magrebina.

O PP, principal partido da oposição, se defendeu, afirmando que “isto não vem da religião, nem de nacionalidades”, mas se trata de uma simples “modificação legal”, afirmou seu vice-secretário-geral, Elías Bendodo, durante uma coletiva de imprensa.

O Vox, por sua vez, comemorou a medida, assegurando, em postagem no X, que “a Espanha é e sempre será terra de raízes cristãs!”.

Tanto organizações muçulmanas quanto católicas criticaram a medida.

Trata-se de “uma decisão que lesa o coração da nossa identidade plural e causa um dano significativo à nossa comunidade, com um impacto especialmente doloroso para os cidadãos muçulmanos”, escreveu no X Mohamed Ajana El ouafi, secretário da Comissão Islâmica da Espanha.

“As manifestações religiosas públicas, entendidas como liberdade de culto, estão amparadas pelo direito à liberdade religiosa”, lembraram bispos em um comunicado da Conferência Episcopal Espanhola, difundido por vários veículos de imprensa espanhóis.

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