O governo do Iêmen, reconhecido pela comunidade internacional, assinou nesta terça-feira (5) um acordo para compartilhar o poder com os separatistas e encerrar o conflito no sul do Iêmen, país devastado por uma guerra com várias frentes.
Esse conflito, em que os separatistas assumiram controle de Áden, a grande cidade do sul declarada capital “provisória” pelo governo, desviou a coalizão liderada pela Arábia Saudita de sua luta contra os huthis, rebeldes procedentes do norte do Iêmen que se apoderaram da capital Saná e de grandes partes do território iemenita.
“Este acordo abrirá um novo período de estabilidade no Iêmen”, disse o príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salman durante a cerimônia de assinatura do pacto, transmitida pela televisão.
“É um dia feliz para a Arábia Saudita, já que os dois lados estão juntos”, acrescentou.
O acordo prevê, segundo fontes políticas iemenitas e sauditas, integrar os separatista do Conselho de Transição do Sul (STC) ao governo e o retorno à cidade de Áden.
As forças separatistas dever ser integradas nos ministérios da Defesa e do Interior, segundo o acordo.
O acordo recebeu elogios do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tuitou: “Um bom começo! Por favor, todos trabalhem duro para conseguir um acordo final”.
O enviado especial da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, parabenizou ambas as partes pelo acordo alcançado que, em sua opinião, estimula os esforços para acabar com a guerra civil que devastou o país.
“A assinatura deste acordo é um passo importante em nossos esforços coletivos para avançar em direção a uma solução pacífica do conflito no Iêmen”, afirmou Griffths em um comunicado.
As forças separatistas do STC assumiram em agosto o controle de Adén, que havia se convertido na base de retomada do governo, expulso da capital Saná em 2014 pelos rebeldes huthis.
Os confrontos entre separatistas e forças leais ao governo iemenita, em princípio aliados em sua guerra comum contra os xiitas huthis – que eclodiu em 2014 -, causaram medo de que o país acabasse se desintegrando.
– A desconfiança persiste –
Riade, que lidera uma coalizão militar anti-huthis que também é integrada pelos Emirados Árabes Unidos, tem mediado as negociações entre o governo iemenita e o STC, na cidade saudita de Yeda (oeste).
A cerimônia de assinatura foi assistida pelo presidente iemenita, Abd Rabbo Mansur Hadi; pelo chefe do STC, Aidarus al Zubaidi; o xeque Mohamed bin Zayed, príncipe herdeiro de Abu Dabi e homem forte dos Emirados Árabes, que apoia também às forças separatistas no sul.
Segundo os analistas, o acordo acalma a situação no sul, embora as reivindicações separatistas de um Estado independente podem reaparecer.
“No curto prazo, o acordo vai permitir à coalizão permanecer unida e concentrar seus esforços na batalha contra os huthis”, comentou à AFP Elisabeth Kendall, investigadora da Universidade de Oxford.
No longo prazo “as ambições do Sul não desaparecerão e a pergunta é sim (os separatistas) podem ser temporariamente controlados, acrescentou.
A coalizão dirigida por Riade interveio no Iêmen em 2015 quando os huthis se aproximavam de Adén, levando Hadi a se exilar na Arábia Saudita.
Segundo a ONU, o conflito provocou a pior situação humanitária do mundo, com cerca de 3,3 milhões de pessoas deslocadas e 24,1 milhões de pessoas, ou seja 80% da população, necessitada de assistência.
Apesar da guerra, os separatistas pediram a independência do Sul do Iêmen, que era um Estado independente até 1990.