O governo e a oposição da Venezuela anunciaram nesta segunda-feira (16) que irão retomar o processo de negociação política com uma reunião em Barbados, da qual os Estados Unidos também irão participar, com um interesse mais voltado para a migração e a economia.

As conversas, que terão início amanhã, em Bridgetown, serão retomadas pouco depois de um acordo entre Nicolás Maduro e Washington, apesar de os EUA não o reconhecerem formalmente como presidente, e a dias das eleições primárias da oposição.

As partes informaram em comunicado sua decisão de “retomar o processo de diálogo e negociação, facilitado pela Noruega, com o objetivo de chegar a um acordo político”. O Departamento de Estado americano saudou o anúncio e expressou que dará prosseguimento a seus “esforços para unir a comunidade internacional em apoio a um processo de negociação liderado pela Venezuela”, segundo nota enviada à AFP.

– Inabilitações –

As conversas, que ocorriam no México, começaram em agosto de 2021, mas foram suspensas em outubro daquele ano, após a extradição para os Estados Unidos do empresário Alex Saab, acusado de lavagem de dinheiro e de atuar como “laranja” de Maduro.

Foram retomadas brevemente, mas, em novembro de 2022, houve uma nova ruptura, depois que o governo de Maduro condicionou o diálogo ao desembolso de 3 bilhões de dólares (15,8 bilhões de reais, na cotação da época) de fundos congelados da Venezuela no exterior e administrados pelas Nações Unidas.

Especialistas avaliam que da reunião de Barbados pode sair um primeiro acordo no qual, em troca da flexibilização das sanções, se permita as primárias opositoras de 22 de outubro, se elabore um cronograma eleitoral para 2024, se liberte presos políticos e, o ponto alto da agenda, se estude a suspensão das inabilitações políticas.

María Corina Machado, favorita nas eleições internas que irão definir o rival de Maduro, teoricamente não pode se candidatar a presidente, porque está inabilitada por 15 anos.

“É improvável que as inabilitações sejam resolvidas, mas o governo de Maduro deixaria a porta aberta sobre elas no futuro, provavelmente apontando que os inabilitados podem recorrer da medida ante o Tribunal Supremo de Justiça”, explicou à AFP Mariano de Alba, assessor sênior do International Crisis Group.

– Petróleo –

O governo americano – que tem um canal direto com Maduro – flexibilizou o embargo energético imposto em 2019 com licenças que permitem a operação de algumas petroleiras, como a gigante Chevron, e insiste em que acordos para as eleições do ano que vem ajudariam a suspender mais medidas punitivas.

Os preços do petróleo bruto cederam hoje, diante da expectativa de um alívio das sanções em troca de eleições competitivas com observadores internacionais.

Funcionários americanos devem viajar a Barbados e se reunir nas próximas horas com representantes das duas delegações, segundo o veículo estatal americano Voz da América.

“O que mais influencia no esforço dos Estados Unidos para buscar um acordo é tentar frear a migração venezuelana, mas o interesse energético também está presente”, estimou De Alba.

Em 5 de outubro, Washington acordou com o governo de Maduro a “repatriação direta” de venezuelanos sem documentos, devido ao crescente aumento da migração nesse país, que se converteu em um problema para o presidente Joe Biden a um ano das eleições em que buscará a reeleição.

“Aos Estados Unidos interessa normalizar um pouco as relações, não tanto por incentivos políticos, mas sobretudo em benefício de seu interesse nacional, que é absolutamente econômico”, apontou por sua vez o consultor político Pablo Quintero.

O presidente colombiano, Gustavo Petro, que tentou reanimar as conversas em abril, com uma reunião sobre a Venezuela da qual participaram 20 países, aplaudiu o novo encontro, que “abre um canal de diálogo para superar os conflitos políticos no país irmão”.

A chanceler do México, Alicia Bárcena, que faz uma visita a Caracas, também celebrou o diálogo.

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