As autoridades sudanesas que estão no poder há um ano e quatro movimentos rebeldes assinaram nesta segunda-feira (31) em Juba, capital do Sudão do Sul, um acordo de paz que deve acabar com 17 anos de guerra.

O acordo foi assinado em duas etapas, primeiro pelos grupos rebeldes em Darfur, onde a guerra que começou em 2003 deixou, segundo a ONU, quase 300.000 mortos e 2,5 milhões de deslocados, e depois pelo movimento rebelde de Kordofan do Sul e do Nilo Azul, cujo conflito afeta um milhão de pessoas.

Do lado das autoridades sudanesas, o acordo foi assinado por Mohamed Hamdan Daglo, vice-presidente do Conselho Soberano que governa o país e acusado de ter cometido “atrocidades” em Darfur durante a guerra civil.

Em um momento muito simbólico, Mohamed Hamdan Daglo apertou a mão daqueles que foram seus inimigos, os chefes dos quatro movimentos rebeldes reunidos na Frente Revolucionário Sudanesa (FRS).

Vários líderes sudaneses viajaram até Juba para celebrar o primeiro êxito desde a queda do autocrata Omar Al Bashir no início de 2019.

O general Abdel Fattah Al Burhan, que preside o Conselho Soberano, assim como o primeiro-ministro Abdallah Hamdok e outros cinco ministros acompanharam a cerimônia, presidida pelo chefe de Estado de Sudão do Sul, Salva Kiir.

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“O sonho virou realidade após os consideráveis esforços que permitiram chegar um acordo de paz entre o governo e a Frente Revolucionária Sudanesa”, afirmou no domingo Tutkew Gatluak, coordenador dos mediadores e conselheiro do presidente do Sudão do Sul para questões de segurança.

– Um ano de negociações –

Para alcançar ao acordo, as partes precisaram de um ano de negociações pela enorme desconfiança entre os dois lados e a complexidade do conflito.

“Quando aconteceu a declaração de Juba em setembro (2019), todo o mundo esperava que a paz seria assinada em dois ou três meses, mas percebemos que os temas tinham uma complexidade excepcional”, disse Hamdok.

Após o fracasso de vários acordos de paz, como o de 2006 em Abuja (Nigéria) e o de 2010 no Catar, os adversários entenderam que não se tratava apenas uma questão de segurança e abordaram as questões profunda que envenenam o país desde sua independência, em 1956.

Antes da cerimônia oficial nesta segunda-feira, os representantes das distintas partes assinaram no fim de semana os oito protocolos que integram o acordo de paz: segurança, propriedade imobiliária, justiça transitória, distribuição e compensação, desenvolvimento do sector nômade e pastoril, distribuição da riqueza, divisão do poder e o retorno dos refugiados e deslocados.

O acordo estipula que os movimentos armados terão que ser desmantelados e que seus combatentes terão que unir-se ao exército regular, que será reorganizado para ser representativo de todos os componentes do povo sudanês.

As negociações de paz eram a prioridade do novo governo de Cartum.

“Todos os programas de governo são baseados na paz e se a paz não for alcançada, nenhum programa de transição será concretizado”, explicou Fayçal Mohamed Saleh, porta-voz do governo.

“Examinaremos em breve a aplicação do acordo de paz para ajudar o retorno dos refugiados e das pessoas deslocadas a suas localidades e somos otimistas quanto ao fato de que o Sudão terá um futuro melhor”, disse.

Mas ainda resta muito por fazer porque dois grupos não participaram nas cerimônias de segunda-feira: o Movimento de Libertação do Sudão (MLS) de Abdelwahid Nour e o Movimento Popular de Libertação do Sudão do Norte (SPLA-N) de Abdelaziz al-Hilu.


“Esta é a primeira fase e esperamos que aconteça outra etapa de negociações com os dois grupos”, afirmou Saleh.


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