Governo dos EUA está prestes a enfrentar ‘shutdown’, com partidos em impasse

Os Estados Unidos “provavelmente” enfrentarão uma paralisação administrativa do governo devido à falta de acordo entre republicanos e democratas, afirmou nesta terça-feira (30) o presidente americano Donald Trump, culpando a oposição pelas conversas estagnadas sobre um acordo de orçamento.

“Provavelmente teremos uma paralisação”, disse Trump aos repórteres no Salão Oval, apenas algumas horas antes do prazo para um acordo à meia-noite.

“Eles vão fechá-lo, não nós. Não queremos fechar porque estamos vivendo o melhor período já visto”, acrescentou.

Se antes da meia-noite o Congresso não aprovar um orçamento, mesmo que temporário, os Estados Unidos enfrentarão o chamado “shutdown”, com a paralisação da maioria dos serviços federais.

Centenas de milhares de funcionários públicos ficarão temporariamente sem salário, e o pagamento de muitos benefícios sociais será interrompido.

“Podemos fazer coisas durante o fechamento que são irreversíveis, que são ruins para eles (…) como demitir uma grande quantidade de pessoas ou cortar coisas que eles gostam”, declarou Trump, referindo-se aos democratas.

Segundo o Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO, sigla em inglês), 750 mil funcionários federais poderiam ficar em situação de desemprego parcial, com uma perda de renda de 400 milhões de dólares (2,13 bilhões de reais, na cotação atual).

O último fechamento administrativo, ocorrido do final de dezembro de 2018 até o final de janeiro de 2019, durante o primeiro mandato de Trump, durou 35 dias. Na época, o CBO estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) havia sido reduzido em 11 bilhões de dólares (58,49 bilhões de reais).

Essas paralisações por falta de orçamento são muito impopulares nos Estados Unidos, e tanto democratas quanto republicanos tentam evitá-las.

Especialmente diante das eleições legislativas de meio de mandato em novembro de 2026, nas quais estará em jogo a maioria presidencial no Congresso.

– Duas posições –

Por enquanto, republicanos e democratas mantêm-se firmes em suas posições.

Por um lado, os republicanos propõem uma prorrogação do orçamento atual até o final de novembro.

Já os democratas querem recuperar bilhões de dólares em gastos para a saúde pública, particularmente no programa de seguro médico para os mais pobres, que o governo de Trump planeja suprimir com sua “grande e bela lei” orçamentária aprovada em julho.

Embora os republicanos tenham maioria em ambas as câmaras do Congresso, o regulamento do Senado estabelece que um texto orçamentário deve ser aprovado por 60 votos de 100, o que requer sete votos democratas.

Na segunda-feira, Trump recebeu na Casa Branca os principais líderes republicanos e democratas do Congresso, uma reunião que apenas confirmou o impasse nas negociações.

“Temos a vontade e a capacidade de encontrar um acordo bipartidário para financiar o Estado de maneira que realmente atenda às necessidades do povo americano em matéria de saúde, segurança e prosperidade econômica”, afirmou nesta terça o líder da minoria democrata na Câmara dos Representantes, Hakeem Jeffries.

“Mas (…) não apoiaremos um projeto de lei republicano partidário que continue desmontando o sistema de saúde americano, nem agora nem nunca”, acrescentou diante do Congresso.

Em março, com a ameaça de um “shutdown” já latente, os republicanos se negaram a dialogar com os democratas sobre cortes orçamentários em massa e a demissão de milhares de funcionários federais.

Na ocasião, 10 senadores democratas, entre eles Chuck Schumer, votaram a contragosto por essa medida republicana de emergência para evitar um fechamento.

Mas sua decisão enfureceu a base do partido, que pede aos líderes democratas que enfrentem Trump. Desta vez, o líder da minoria democrata no Senado parece decidido a medir forças com o presidente republicano.

Segundo os cálculos dos analistas da empresa de seguros Nationwide, cada semana de fechamento poderia reduzir o crescimento do PIB dos Estados Unidos em 0,2 ponto percentual.

“O governo de Trump poderia aproveitar para reduzir ainda mais os subsídios e os executivos federais”, apontam, o que representaria uma mudança significativa em relação aos fechamentos anteriores, nos quais os funcionários demitidos eram recontratados assim que a situação era restabelecida.

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