O governo do México apresentou, nesta quinta-feira (14), um relatório polêmico segundo o qual as autoridades localizaram 16.681 pessoas reportadas como desaparecidas em um registro nacional que reúne mais de 110.000 casos, a grande maioria desde 2006, devido à violência do narcotráfico.

Depois de depurar desde maio passado a base de dados nacional, que reporta casos desde 1961, constatou-se que, “dos 110.964 registros (de desaparecimentos), 15% já foram localizados”, disse a secretária do Interior, Luisa María Alcalde, durante entrevista coletiva da Presidência.

O presidente Andrés Manuel López Obrador anunciou há meses que o registro nacional de desaparecimentos seria revisado detalhadamente, por ter sido administrado de maneira maliciosa, ou por estar desatualizado.

Esse processo foi alvo de críticas por parte dos defensores de direitos humanos, políticos da oposição e coletivos de familiares de desaparecidos, que acusam o governo de tentar reduzir os números.

“Não apagamos ninguém, incluindo os 16.681 que já estão identificados, não vão ser apagados” do registro, assegurou o mandatário.

Até a manhã desta quinta, o registro de pessoas desaparecidas, gerido pelo governo e que é atualizado constantemente com dados de procuradorias estatais, somava 113.322 casos.

O governo revisou 110.964 registros acumulados até agosto. O processo continuará e haverá relatórios bimestrais.

– 11% de casos confirmados –

“Não estamos desaparecendo com desaparecidos, não se apagou nem se apagará nenhum registro”, disse Alcalde ao apresentar os resultados do polêmico projeto.

O governo revisou os registros oficiais – como pagamentos de impostos, serviços de saúde ou escolares, e outros -, para determinar se havia algum sinal de vida dos desaparecidos.

Alcalde detalhou que encontraram provas fidedignas do paradeiro de 16.681 pessoas. Desse total, 3.945 foram encontradas em suas casas, e 8.405 têm alguma prova de vida fornecida pelas autoridades locais. Descobriu-se também que 197 estão presas e que 4.134 morreram.

A funcionária contou, ainda, que “há indícios importantes de localização” de outras 17.843 pessoas, reportadas na mesma base de dados de desaparecidos.

Segundo o governo, entre os mais de 110 mil casos que revisaram, apenas em 12.377 (11%) encontraram elementos que confirmam o desaparecimento, uma vez que são alvo de investigações nos Ministérios Públicos locais.

A ex-chefe da Comissão Nacional de Busca de Desaparecidos, Karla Quintana, demitiu-se em agosto passado por discordar da maneira como o registro estava sendo atualizado.

– Números imprecisos –

Esse relatório foi recebido com ceticismo por coletivos de familiares de desaparecidos consultados pela AFP, pois consideram que existe uma subnotificação de casos porque não há denúncia ou não foram incluídos na estatística oficial.

Héctor Flores, da organização Luz e Esperança, do estado de Jalisco (oeste), explicou à AFP que sua associação reúne familiares de cerca de 400 pessoas cujo paradeiro é desconhecido, mas nenhuma aparece no registro nacional.

“Foi apresentada uma denúncia de 90% de desaparecimentos, mas o Ministério Público estadual não as reportou ao governo federal. E, desta maneira, pode ocorrer em outros estados”, disse.

Flores explicou que nenhum dos integrantes do coletivo foi consultado pelas autoridades federais ou estaduais.

Jalisco, estado que concentra o maior número de desaparecimentos, revisou sua estatística mediante um censo para avaliar cerca de 14.500 casos de desaparecimentos, mas Ríos defende que, com base nos relatórios dos coletivos, seriam cerca de 18.000.

Cecilia Flores, das Madres Buscadoras do estado de Sonora e cujo filho desapareceu em 2015, reconheceu que o registro nacional pode ter imprecisões, já que seu coletivo comprovou que quando as pessoas são localizadas, algumas famílias preferem não retirar a denúncia por medo, sobretudo se viverem em zonas com presença do narcotráfico.

“Mas também há uma subotificação porque muitos desaparecimentos não são denunciados por medo. O que se necessita, mais que depurar o registro, é que o governo faça seu trabalho: investigar e localizar nossos desaparecidos”, acrescentou.

O registro inclui casos desde 1961, mas a grande maioria dos desaparecimentos se acumulou desde 2006, quando o governo federal lançou uma polêmica operação militar contra as drogas.

Um dos casos mais emblemáticos é o desaparecimento de 43 estudantes da escola normal de Ayotzinapa (estado de Guerrero, sul), em setembro de 2014.

Segundo números oficiais, desde dezembro de 2006, foram contabilizados mais de 420.000 homicídios, além dos desaparecimentos.

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