Lula recebeu em Brasília a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com um clima de advertência. Em discurso ao lado dela, criticou o bloco por fazer novas exigências para concretizar o acordo Mercosul-União Europeia e, indiretamente, condenou o apoio armado à Ucrânia. Mais uma vez, mostrou que a política externa está fora do tom.

A primeira declaração parece apenas uma estratégia para desgastar o acordo de livre comércio que se arrasta há décadas e parecia próximo de se concretizar no início do governo Bolsonaro, quando o chefe das negociações era o economista e diplomata Marcos Troyjo. A política caótica do capitão reformado paralisou tudo, especialmente pelo estímulo às ações criminosas de madeireiros e garimpeiros, o que levou a uma explosão de queimadas na Amazônia.

Contra isso, a Europa criou normas para punir as empresas que importassem commodities de regiões provenientes de extração ilegal. É a mesma estratégia que a Febraban está adotando, ao fazer os bancos nacionais pararem de financiar a pecuária destrutiva. Como Bolsonaro quase ganhou a reeleição, seria positivo que o bloco econômico ajudasse a conter a devastação ambiental aqui, mas o Itamaraty, que virou sua bússola do extremismo de direita para o radicalismo esquerdista, achou isso uma intervenção à soberania nacional.

Lula também continua condenando a Europa por auxiliar a Ucrânia a se defender da agressão russa. Ao dizer que a solução para o conflito “não pode ser militar”, defende que o bloco pare de auxiliar e enviar armas o país invadido, que ficaria assim à mercê das tropas de ocupação e sua política de genocídio. O chefe do Executivo brasileiro não condenou a invasão, que é a posição da ONU, nem tocou nos crimes de guerra cometidos por Vladimir Putin, que tem ordem de prisão expedida pelo Tribunal de Haia, ao qual o Brasil é filiado.

Enquanto o Brasil patina na transição energética, Ursula von der Leyen acenou com R$ 10,5 bilhões para promover o hidrogênio verde no Brasil e anunciou uma doação de R$ 105 milhões ao Fundo Amazônia. São iniciativas concretas para contribuir com a proteção ambiental, que deveriam ser saudadas. O acordo de livre comércio, da mesma forma, poderia diminuir o protecionismo e aumentar a produtividade da economia. Mas o governo Lula reage com desconfiança, encara essa integração como uma ameaça e tenta se distanciar do bloco europeu, preferindo acenar para a China e para o seu satélite, a Rússia. É assim que o Brasil quer voltar a ter relevância no cenário internacional?