O governo da Nicarágua afirmou nesta segunda-feira (14) que os pré-candidatos presos sob a acusação de “incitar a intervenção estrangeira” são “usurpadores” financiados pelos Estados Unidos para derrubar o presidente, Daniel Ortega.

Para o governo sandinista, os opositores, detidos em sucessivas batidas policiais a cinco meses das eleições presidenciais, não representam “a verdadeira oposição na Nicarágua”, pois não se registraram nem foram selecionados como candidatos por nenhum partido político. “A única coisa que este grupo de usurpadores da oposição tem em comum é a sua lealdade ao governo dos Estados Unidos”, diz o governo em um texto intitulado “Nicarágua: em Defesa da Soberania e do Estado de Direito”.

De acordo com o documento, os opositores, diretamente ou “por meio de suas respectivas ONGs, receberam milhões de dólares em dinheiro do povo norte-americano por meio da Usaid” e de outras agências, para “derrotar o governo eleito do Presidente Comandante Daniel Ortega Saavedra”.

A acusação do governo ocorre em meio a duras críticas da comunidade internacional e sanções dos EUA pelas prisões de 13 opositores, entre eles quatro aspirantes à presidência, membros de destaque da dissidência sandinista e líderes de empresas privadas e da sociedade civil.

As operações policiais se iniciaram em 2 de junho, com a prisão de Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro. Também estão detidos o ex-diplomata Arturo Cruz, o cientista político Félix Maradiaga e o economista Juan Sebastián Chamorro, primo de Cristiana, cuja libertação imediata é reivindicada pela comunidade internacional. O governo pediu que não haja “interferência” na investigação contra essas pessoas, acusadas “por crimes de lavagem de dinheiro, fraude, traição e conspiração”.

Ortega, um ex-guerrilheiro que governou de 1979 a 1990, voltou ao poder em 2007 com a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e ali se manteve após duas reeleições consecutivas. Seus adversários acreditam que ele buscará o quarto mandato na votação de 7 de novembro.

Ele foi acusado pela oposição e a comunidade internacional de governar de forma autoritária, após a brutal repressão às manifestações contra a sua gestão em 2018, que deixaram mais de 300 mortos e milhares de exilados, segundo organizações de direitos humanos.

O sandinismo garantiu que realizará eleições gerais “livres, justas e transparentes” e exigiu que não haja “interferência de qualquer governo estrangeiro” no processo. Pediu também que “sejam eliminadas” as sanções unilaterais impostas ao país. Considera que “as únicas sanções legais são aquelas determinadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas”.