O secretário de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Sérgio Sá Leitão, foi o entrevistado da live de IstoÉ nesta última sexta-feira (7). O jornalista falou sobre como a cultura sofre com o impacto da pandemia de Covid-19, como vem fazendo para tentar minimizar os estragos no segmento e sobre as perspectivas de futuro.

“Estávamos a 100km por hora e fomos a 0 de uma hora para outra. Um impacto devastador”, diz. Para ele, o setor deverá levar de um a dois anos para se recuperar economicamente.

Antes da crise sanitária do novo coronavírus, as atividades culturais e criativas em São Paulo geraram 3,9% do PIB estadual, ou cerca de R$ 79 bilhões por ano, com 1,5 milhão de postos de trabalho e crescia a uma velocidade de 4,6% ao ano.

Trata-se de um dos dez principais setores da economia do estado e foi o primeiro a ser impactado pela crise gerada pela pandemia. A Secretaria, estima ele, trabalha com uma perda do setor de R$ 34,5 bilhões, ou 1,7% do PIB estadual, além de 1 milhão de trabalhadores informais e temporários do setor afetados. “A recuperação acontecerá de forma muito gradual e progressivo, a partir setembro”, avalia.

O secretário contou sobre os programas do governo na área de microcréditos para que as empresas, pequenos produtores e empreendedores tenham um fôlego maior para enfrentar a crise do novo coronavírus e que, depois, isso seja um fator de aceleração da recuperação.

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“O recurso se esgotou e a demanda chegou a mais de 20 bilhões de reais, mas nós só conseguimos colocar ali, inicialmente, 500 milhões de reais, dobramos essa linha para um bilhão de reais, mas ainda assim a demanda é cerca de 20 vezes maior do que a oferta. Desde então nós temos procurado levantar recursos em outras fontes”, diz.

Sá Leitão falou sobre o processo de reabertura das principais praças culturais no estado. Segundo ele, as regras para reabertura têm como base análises realizadas em reuniões diárias com o Centro de Contingência do Coronavírus, levantamento de paradigmas e estudos nacionais e internacionais e diálogo com os setores, que vêm sendo realizados desde abril.

“Essas atividades já poderiam ter sido retomadas do ponto de vista do Estado, desde o dia 27 de julho, a Prefeitura de São Paulo optou por determinar que essas atividades só podem voltar quando a capital entrar na fase verde e isso deve ocorrer em setembro ou outubro. Lamentei porque estamos absolutamente seguros de que é possível retomar as atividades com total segurança para o público e para os funcionários”, explica.

 Produtor audiovisual, Sá Leitão foi ministro da Cultura no governo Michel Temer (MDB), ele avaliou o debate sobre o fim da meia entrada que tem ganhado força no País.

“A meia-entrada é extremamente danosa ao setor cultural. É um falso benefício para a população e ruim para todos. Acaba não sendo um benefício para quem está pagando a meia e acaba e sendo um ônus para quem paga a inteira. Não é vantagem nenhuma e por outro lado acaba prejudicando muito a capacidade que os cinemas, teatros, museus etc fazerem uma política de preços. É um falso benefício para a população. Eu julguei como uma iniciativa positiva do governo federal botar o assunto em discussão”, pondera.

Se o secretário vê com bons olhos a iniciativa do governo federal estimular o debate da meia entrada, por outro lado, ele é um crítico ácido da gestão Bolsonaro na pasta da Cultura.

“A cultura me parece que, além de não ser tão valorizada a nível federal, tanto pelo pelo executivo contra o próprio legislativo, parece que acaba sempre querendo pagar conta com como se como os artistas fossem os vilões, os compositores fossem pessoas que ficam nas suas piscinas fumando charuto e ganhando milhões de dólares. É uma visão deturpada. Um descaso com a classe”, diz.

Para ele, o Brasil é um dos países mais ricos e potentes e diversos do mundo neste campo e reúne todas as condições para se tornar uma grande potência cultural e criativa do planeta no século 21, como os Estados Unidos se tornaram no século 20.

“Já de início a cultura foi rebaixada da 1ª para a 2ª divisão. O fato é que o presidente Jair Bolsonaro nunca teve familiaridade com o setor cultural e criativo e nenhum grau de conhecimento sobre política cultural e o papel do estado nessa área. O governo até hoje não aprendeu a lidar com essa área e não definiu o que ele quer efetivamente com essa área. Governo conservador que não gosta de cultura é algo inteiramente inédito”, conclui.


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