Por Aluisio Alves

SÃO PAULO (Reuters) – Um surpreendente resultado do leilão de aeroportos desta quinta-feira foi celebrado pelo governo federal, que levantou bem mais do que o mínimo definido no edital mesmo sem disputa pelo terminal de Congonhas (SP), segundo maior do país e considerado uma das joias da coroa da agenda liberal de infraestrutura da gestão Jair Bolsonaro.

Mesmo sendo a única a manifestar interesse por Congonhas, parte de um pacote de 11 aeroportos distribuídos entre os Estados De São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pará, a espanhola ofertou pagar 2,4 bilhões pelo lote, um ágio de 231% sobre o valor mínimo de 740 milhões de reais definido no edital.

“Foi um dia de êxito, de festa”, disse o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, na cerimônia na B3 logo após o desfecho do leilão. “Melhor do que muitos concorrentes é 231% de ágio.”

No certame também foram ofertados um bloco com os terminais de aviação executiva Campo de Marte (SP) e Jacarepaguá (RJ), que a XP arrematou também sem disputa pagando praticamente o mínimo de 141 milhões de reais; o Norte II, com aeroportos de Macapá (AP) e Belém (PA), o único com concorrência e no qual um consórcio da brasileira Socicam bateu a francesa Vinci ao ofertar 125 milhões de reais pela outorga, um ágio de quase 120%.

Com os 15 aeroportos licitados nesta quinta-feira, o governo Bolsonaro elevou para 49 o número de aeroportos concedidos desde 2019, quando assumiu. Do plano original, porém, um dos principais ativos, o aeroporto Santos Dumont (RJ), ficou para 2023, quando o governo espera realizar uma oitava rodada, incluindo também o terminal do Galeão, também no Rio de Janeiro, que foi devolvido para ser relicitado. A expectativa do governo é que este bloco seja leiloado mais para o final do próximo ano.

Sampaio mencionou alguns ativos que o governo ainda pretende licitar neste ano, casos dos lotes 1 e 2 de rodovias no Paraná e da BR-81, em Minas Gerais, sem contar a privatização do Porto de Santos (SP), o maior do país.

Mesmo assim, a agenda de concessões, uma das vitrines da agenda liberalizante do governo Bolsonaro na área de infraestrutura de mobilidade chega até agora com garantia de cerca de 120 bilhões de reais em investimentos para as próximas décadas, menos da metade do previsto pelo então ministro da pasta, Tarcisio de Freitas, hoje candidato ao governo de São Paulo.

Mesmo que todos os demais ativos previstos para privatização ou concessão ocorram até dezembro, os investimentos esperados subiriam para 200 bilhões, abaixo dos 250 bilhões de reais estimados no início.

Sampaio atribuiu os resultados menores do que o esperado aos efeitos da pandemia da Covid-19, à guerra na Ucrânia e aos juros altos no mundo todo, além do “congestionamento de licitações de rodovias”, que provocou o atraso em alguns leilões.

“O cenário mundial é muito desafiante”, disse ele, ressaltando, porém, que o governo pretende incluir outros 73 ativos de infraestrutura para serem licitados em 2023 e 2024.

GIGANTE NO SETOR

Com a vitória sem concorrência nesta quinta-feira, a Aena eleva seu parque de ativos no Brasil para 17 terminais, tornando-se a maior empresa de concessões de aeroportos do país. A companhia já administra terminais em Recife, Maceió, João Pessoa, Aracaju, Juazeiro do Norte e Campina Grande.

“Estamos convencidos que a internacionalização da Aena é uma garantia de futuro para a companhia”, disse em nota o presidente da companhia, Maurici Lucena.

“Não há muitas oportunidades no mundo”, disse a jornalistas a diretora da Aena Internacional, Maria Ángeles Rubio. “E o Brasil e muito importante para nós.”

A empresa deveria ter enfrentado concorrência da CCR, a maior empresa de gestão de ativos de infraestrutura de transporte do país. Porém, nesta semana a companhia anunciou que ficaria fora da disputa para focar “nas entregas de obras e operações para os leilões em que se sagrou vitorioso, recentemente”. O anúncio ocorreu poucos dias depois da companhia ter afirmado que o leilão da sétima rodada fazia parte de sua estratégia no país.

Os investimentos previstos no bloco que a Aena arrematou nesta quinta-feira são de cerca de 5 bilhões de reais.

Segundo a companhia, o bloco de 11 aeroportos registrou em 2019 um total de 26,8 milhões de passageiros, que corresponde a 12% do tráfego aéreo do país naquele ano. Desse total, 22,8 milhões de passageiros referem-se apenas a Congonhas.

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