O Poder Executivo da Bolívia exigiu, nesta sexta-feira (6), que o departamento de Santa Cruz substitua o seu governador, o opositor Luis Fernando Camacho, depois que ele foi preso na semana passada por suposta participação na saída de Evo Morales da Presidência em 2019.

O ministro da Justiça, Iván Lima, afirmou que o estatuto que rege o departamento de Santa Cruz, o motor econômico da Bolívia, prevê “com clareza a figura do vice-governador, que pode assumir em caso de ausência temporária, como é o que se apresenta nesta situação”.

Camacho, um dos maiores opositores do governo do MAS (Movimento Ao Socialismo), foi detido em 28 de dezembro e levado à capital La Paz, pelo que governistas e o Ministério Público classificam como “golpe de Estado” contra Morales (2006-2019).

Camacho, advogado e empresário de 43 anos, é considerado um dos líderes que promoveu os protestos nas ruas que obrigaram Morales a renunciar.

Ele foi eleito governador nas eleições regionais de 2021 com 55% dos votos. Junto com Camacho, também foi designado vice-governador seu correligionário Mario Aguilera.

De acordo com o ministro Lima, Aguilera deve assumir o cargo de governador, enquanto Camacho cumpre sua prisão temporária de quatro meses, ditada por um juiz.

Além disso, advertiu que tomará medidas legais se a Assembleia Legislativa regional e o governo de Santa Cruz não realizarem a substituição temporária.

“Se, na próxima semana, a situação de Santa Cruz não estiver regularizada, temos a obrigação de apresentar uma ação penal por descumprimento de deveres dessas autoridades”, pontuou.

Por sua vez, Aguilera adiantou que Camacho continuará sendo governador e que ainda exercerá suas funções da prisão, pois não renunciou ao cargo para que ocorresse a sua substituição.

O estatuto de Santa Cruz estabelece as duas figuras: a de ausência temporária do governador e sua substituição pelo vice, e a renúncia para sua substituição definitiva.

Contudo, na cidade de Santa Cruz de la Sierra, a capital departamental, completam nesta sexta-feira dez dias de protestos contínuos nas ruas, após a detenção de Camacho.

Dezenas de civis, principalmente jovens, se reúnem na praça do Cristo Redentor, um lugar simbólico onde seus líderes costumam realizar suas proclamações regionais, para exigir a libertação de Camacho.

Os confrontos nas ruas entre civis e policiais deixaram, segundo fontes oficiais, mais de 200 feridos, cerca de 70 opositores detidos e vários estabelecimentos governamentais queimados.

Santa Cruz de la Sierra também está isolada por terra do resto do país devido aos bloqueios de estradas interdepartamentais.