O governo alemão autorizou nesta quarta-feira (6) a retomada do Campeonato Alemão de futebol, mas com portões fechados, a partir de meados de maio, apesar dos riscos para a saúde e das críticas recebidas de outros esportes.

Mais de dois meses após a suspensão das competições devido à pandemia do coronavírus, a Bundesliga será a primeira das grandes ligas de futebol da Europa a retomar sua competição, cumprindo uma série de protocolos de proteção. A data exata para a volta do futebol será definida pela Liga Alemã de Futebol (DFL) nos próximos dias.

“A Bundesliga pode voltar a partir da segunda metade de maio, respeitando as regras que foram combinadas”, declarou Angela Merkel, chanceler do governo alemão, após uma reunião com as autoridades dos Estados federados em que foram abordadas as medidas de confinamento.

A Alemanha trilha assim um novo caminho para as ligas europeias. A França suspendeu definitivamente sua temporada na semana passada, enquanto Inglaterra, Espanha e Itália aguardam, na melhor das hipóteses, voltar a jogar em junho.

Outros países com ligas menos poderosas já fixaram datas para o reinício de suas competições, entre elas Ilhas Faroe (9 de maio), Sérvia (30 de maio) e Turquia (12 de junho).

o Bayern de Munique liderava o Campeonato Alemão no momento da suspensão dos jogos, após a 25ª rodada, com quatro pontos de vantagem sobre o Borussia Dortmund, e está próximo de conquistar um oitavo título alemão consecutivo.

– 300 milhões de euros –

A Liga Alemã de Futebol (DFL) defende há algumas semanas esta retomada, vital para a sobrevivência econômica de um setor que emprega na Alemanha 56.000 pessoas.

A DFL apresentou aos poderes públicos um protocolo sanitário rigoroso, baseado na realização de diversos testes de detecção do coronavírus, o que permitiria relançar a competição sem grandes riscos.

O ministro da Saúde, Jens Spahn, avalia que este protocolo “é coerente e pode servir de modelo para outros esportes”.

Caso as últimas nove rodada dos campeonatos da 1ª e 2ª divisão possam ser disputadas, os clubes alemães receberão 300 milhões de euros em direitos de televisão, o que suavizará um pouco o prejuízo financeiro causado pela pandemia, num momento em que uma dezena de clubes das duas principais divisões se encontram à beira da falência, segundo a imprensa alemã.

A DFL convocou para quinta-feira (7) uma assembleia geral por videoconferência. Os representantes dos 36 clubes deverão finalizar o plano de retomada do futebol.

O plano de saúde da liga alemã se baseia principalmente nos testes de detecção do coronavírus. Todo indivíduo que participar dos treinamentos ou dos jogos será submetido pelo menos uma vez por semana a exames, e obrigatoriamente na véspera das partidas.

– Mal-estar com outros esportes –

Na segunda-feira (4), a DFL anunciou a existência de 10 casos positivos para COVID-19 entre os 1.724 testes realizados no fim de semana entre os 36 clubes da primeira e segunda divisão do futebol alemão. Na elite do futebol alemão, o Colônia revelou na semana passada três casos (dois jogadores e um preparador físico), aos quais se somam dois casos no Borussia Mönchengladbach (um jogador e um fisioterapeuta), segundo informações do jornal regional “Rheinische Post”.

Atletas e membros da comissão técnica que apresentaram casos positivos serão colocados em confinamento, mas o restante do elenco não terá necessariamente que ser isolado. A decisão final sobre as medidas de isolamento não pertence aos clubes, ma sim às autoridades de saúde locais, dependentes dos poderes regionais. Por enquanto, a lei na Alemanha pede que qualquer pessoa que teve contato com um caso “positivo” deve permanecer isolado por quatorze dias.

Para os jogos, 300 pessoas serão autorizadas no estádio e serão criadas zonas para evitar ao máximo os contatos: zona “campo”, zona “arquibancada” e zona “exterior”.

A volta do futebol não foi comemorada com unanimidade no esporte alemão.

“O Estado vende a saúde da população e dos doentes ao futebol. É perverso”, criticou Johannes Vetter, campeão mundial em 2017 de lançamento de dardo, em entrevista a um jornal regional.

A campeã do mundo do arremesso de peso Christina Schwanitz considerou inaceitável o privilégio dado ao futebol. “Não acredito que o futebol tenha esta posição especial sobre todo os outros esportes somente porque gera muito dinheiro”.

A saltadora Tina Punzel, campeã europeia, considerou “lamentável que milhares de testes (para detecção do coronavírus) sejam usados” somente para o futebol.

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