A base governista no Congresso Nacional quer emplacar ao menos a vice-presidência na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS para evitar um vexame e tentar blindar parcialmente o Palácio do Planalto das investigações. A ideia é usar o cargo para reduzir o desequilíbrio do colegiado e evitar o avanço de requerimentos que podem minar a imagem do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Até o momento, dois deputados estão cotados para a disputa do cargo: Marcel Van Hatten (Novo-RS), da oposição, e Duarte Jr (PSB-MA), da ala governista. O PT também deve lançar um nome para a disputa do cargo.
Como mostrou a ISTOÉ, o governo foi pego de surpresa com a derrota para o comando da CPMI. Enquanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), indicou Omar Aziz (PSD-AM) para o comando dos trabalhos, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para relatar o processo no colegiado. O acordo pelos nomes foi quebrado durante a sessão de abertura da comissão.
Após articulação da oposição, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito para chefiar o grupo. De pronto, o parlamentar escolheu o deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), um bolsonarista de primeira ordem, para relatar a CPMI.
A derrota irritou o Palácio do Planalto, que passou a se mexer para reduzir o enfraquecimento na comissão. Lula se reuniu com Motta por uma hora no Palácio do Alvorada, enquanto Gleisi Hoffmann, ministra da articulação política, sentou-se com líderes governistas para pensar em alternativas para mitigar os danos.
Uma das preocupações é com as convocações de Frei Chico, irmão de Lula, e de Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência Social. Chico é vice-presidente de uma das entidades investigadas. Lupi não resistiu à pressão das investigações dos desvios de valores das aposentadorias e deixou o governo em maio.
Até o momento, foram apresentados 232 requerimentos de convocação. Além dos dois citados acima, há requerimentos para convocar investigados na operação e até Erique Lewandowski, filho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que advoga para entidades suspeitas de participarem do esquema.
Derrota do governo na CPMI do INSS
A derrota do governo federal na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS foi construída em poucas horas, com apenas seis deputados e poucos senadores, e meticulosamente em silêncio para não vazar absolutamente nada da articulação da oposição. Tudo para reverter o quadro da comissão, favorável ao Palácio do Planalto até às 11h desta quarta-feira, 20.
Na terça, 19, por volta de 20h, cinco deputados integrantes da comissão se reuniram em uma sala do gabinete na liderança do PL na Câmara para conversar. Entre petiscos e cafés, os parlamentares armavam estratégias para atingir o governo no colegiado, mesmo desfavorecidos numericamente.
No meio do debate, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) passou a articular a derrubada de Omar Aziz da presidência da CPMI. A ideia logo teve a adesão dos demais deputados presentes no encontro: Bia Kicis (PL-DF), Coronel Fernanda (PL-MT), Fernando Rodolfo (PL-PE) e Zé Trovão (PL-SC). Minutos depois, o líder do partido na Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), bancou a ideia e passou a articular com os senadores.
Do outro lado, no Salão Azul, senadores passaram a articular de gabinete em gabinete. De pronto, todos os parlamentares da oposição aderiram a ideia logo nas primeiras horas da manhã. Faltava apenas a contagem dos votos.
Nos bastidores, deputados apostavam na falta de outros colegas para conseguir emplacar o voto de suplentes. Uma das faltantes foi a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), liberando espaço para que um parlamentar do PL pudesse dar mais um voto. Outros que deixaram os votos para o PL foram os deputados Rafael Brito (MDB-AL) e Romero Rodrigues (Podemos-PB).
Com o combo completo, bolsonaristas alinharam o nome de Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência da comissão, que de pronto emplacou o nome de Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). A derrota deixou governistas perplexos e sem entender os rumos que a CPMI deve tomar.