Governistas tentam emplacar vice-presidência para evitar vexame na CPMI do INSS

Derrota pela presidência e relatoria do colegiado pegou Planalto de surpresa e aliados tentam blindar governo para evitar uma nova crise

CPMI do INSS
CPMI do INSS foi instalada nesta quarta-feira, 20, e deve colocar governo na alça de mira do Congresso Nacional Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A base governista no Congresso Nacional quer emplacar ao menos a vice-presidência na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS para evitar um vexame e tentar blindar parcialmente o Palácio do Planalto das investigações. A ideia é usar o cargo para reduzir o desequilíbrio do colegiado e evitar o avanço de requerimentos que podem minar a imagem do governo e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Até o momento, dois deputados estão cotados para a disputa do cargo: Marcel Van Hatten (Novo-RS), da oposição, e Duarte Jr (PSB-MA), da ala governista. O PT também deve lançar um nome para a disputa do cargo.

Como mostrou a ISTOÉ, o governo foi pego de surpresa com a derrota para o comando da CPMI. Enquanto o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), indicou Omar Aziz (PSD-AM) para o comando dos trabalhos, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou o deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO) para relatar o processo no colegiado. O acordo pelos nomes foi quebrado durante a sessão de abertura da comissão.

Após articulação da oposição, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) foi eleito para chefiar o grupo. De pronto, o parlamentar escolheu o deputado federal Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), um bolsonarista de primeira ordem, para relatar a CPMI.

A derrota irritou o Palácio do Planalto, que passou a se mexer para reduzir o enfraquecimento na comissão. Lula se reuniu com Motta por uma hora no Palácio do Alvorada, enquanto Gleisi Hoffmann, ministra da articulação política, sentou-se com líderes governistas para pensar em alternativas para mitigar os danos.

Uma das preocupações é com as convocações de Frei Chico, irmão de Lula, e de Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência Social. Chico é vice-presidente de uma das entidades investigadas. Lupi não resistiu à pressão das investigações dos desvios de valores das aposentadorias e deixou o governo em maio.

Até o momento, foram apresentados 232 requerimentos de convocação. Além dos dois citados acima, há requerimentos para convocar investigados na operação e até Erique Lewandowski, filho do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, que advoga para entidades suspeitas de participarem do esquema.

Derrota do governo na CPMI do INSS

derrota do governo federal na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS foi construída em poucas horas, com apenas seis deputados e poucos senadores, e meticulosamente em silêncio para não vazar absolutamente nada da articulação da oposição. Tudo para reverter o quadro da comissão, favorável ao Palácio do Planalto até às 11h desta quarta-feira, 20.

Na terça, 19, por volta de 20h, cinco deputados integrantes da comissão se reuniram em uma sala do gabinete na liderança do PL na Câmara para conversar. Entre petiscos e cafés, os parlamentares armavam estratégias para atingir o governo no colegiado, mesmo desfavorecidos numericamente.

No meio do debate, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) passou a articular a derrubada de Omar Aziz da presidência da CPMI. A ideia logo teve a adesão dos demais deputados presentes no encontro: Bia Kicis (PL-DF)Coronel Fernanda (PL-MT)Fernando Rodolfo (PL-PE) e Zé Trovão (PL-SC). Minutos depois, o líder do partido na Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), bancou a ideia e passou a articular com os senadores.

Do outro lado, no Salão Azul, senadores passaram a articular de gabinete em gabinete. De pronto, todos os parlamentares da oposição aderiram a ideia logo nas primeiras horas da manhã. Faltava apenas a contagem dos votos.

Nos bastidores, deputados apostavam na falta de outros colegas para conseguir emplacar o voto de suplentes. Uma das faltantes foi a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), liberando espaço para que um parlamentar do PL pudesse dar mais um voto. Outros que deixaram os votos para o PL foram os deputados Rafael Brito (MDB-AL) e Romero Rodrigues (Podemos-PB).

Com o combo completo, bolsonaristas alinharam o nome de Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência da comissão, que de pronto emplacou o nome de Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). A derrota deixou governistas perplexos e sem entender os rumos que a CPMI deve tomar.