O novo governador de São Paulo, João Doria Jr., disse hoje na solenidade de posse na Assembléia Legislativa de São Paulo, que governará para atender os anseios da sociedade e que não terá medo das pressões da oposição, refratária às mudanças que ele pretende implantar. ” Governarei sem medo das bandeiras vermelhas e sem medo de cara feia, inclusive dos que estão na cadeia”, disse Doria, numa referência Lula.

O governador disse ainda que para atingir suas metas vai governar com um time de primeira. “Mais do que um time, montei uma seleção “, disse Doria em seu discurso.

Doria prometeu um governo de austeridade. “Doarei meus salários para entidades sociais e não vou morar no Palácio dos Bandeirantes. O Palácio será apenas para trabalho”, disse ele. Segundo o novo governador, ele pretende apoiar também o governo Bolsonaro, sobretudo nas reformas, e garantiu também que pretende promover alterações no PSDB. “Será a primeira vez na história que um empresário governará São Paulo. Vamos administrar o Estado como administramos na iniciativa privada. Se não for competente, vamos substituir por outro profissional mais competente” , anunciou Doria.

Doria é o 37º governador de São Paulo

Embora venha de uma família em que o pai, João Doria, era político – foi deputado federal pela Bahia e cassado pela ditadura militar em 1964 -, João Doria Jr. sempre se dedicou à iniciativa privada. Desde os 15 anos herdou a veia publicitária do pai e se transformou em um dos maiores publicitários brasileiros, ramo em que ganhou fama e dinheiro. As únicas vezes que havia enveredado pela vida pública foi em 1983, quando assumiu a Secretaria de Turismo do então prefeito Mário Covas, e em 1986 quando tornou-se presidente da Embratur, no governo Sarney.

Fora disso, sempre se dedicou à publcidade e aos negócios. Apesar de ser filiado ao PSDB desde 2001, Doria somente começou a manifestar o desejo de participar da vida pública em 2016, quando se candidatou a prefeito de São Paulo. Movido pelo desejo da sociedade de optar pelo novo, Doria se elegeu prefeito ainda no primeiro turno, passando como uma onda azul pela corrente vermelha do PT, que na época tinha o então prefeito Fernando Haddad como oponente. O novato Doria passou como um trator por cima do PT.

Vitória ainda mais espetacular ele obteve dois anos depois, em outubro deste ano, quando se elegeu governador de São Paulo, vencendo políticos tradicionais, inclusive o então governador Márcio França (PSB), e outros representantes da velha política.

Mesmo sendo vitima de agressões na campanha, Doria superou as dificuldades e venceu mais uma vez uma eleição, apresentando-se como gestor e não como político. E um dos exemplos de que à frente de uma administração ele cerca-se dos melhores técnicos, para gestões também técnicas, Doria escolheu nove dos melhores quadros do ex-presidente Michel Temer. O nono escolhido por Doria foi Antônio Claret, ex-presidente da Infraero. Ele foi escolhido pelo governador para ser o novo presidente do Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo, que administra sete aeroportos regionais do Estado.

A missão do governo Doria é preparar esses aeroportos para depois privatizá-los. Além de Claret, Doria escolheu outros oito gestores de Temer, como os ex-ministros Sérgio Sá Leitão (Cultura), Rossieli Soares (Educação), Alexandre Baldy (Transportes) e Gilberto Kassab (Casa Civil), que vai se licenciar agora para se defender das acusações das quais é vítima.

O maior dos ex-colaboradores de Temer, no entanto, e que agora faz parte do governo de Doria, é sem dúvida o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que será supersecretário da Fazenda do Estado. Ele assumirá o cargo com a tarefa de presidir um grande programa de desestatização para obter até R$ 23 bilhões em bens do Estado que passarão para a iniciativa privada. Com esses recursos, Doria espera destinar dinheiro para os setores essenciais do Estado, como Saúde, Educação, Segurança e Moradia Popular.

Doria já anunciou que uma das primeiras medidas de seu novo governo será melhorar a segurança do Estado e prometeu implantar 24 novos Batalhões de Operações Especiais (Baeps), que serão unidades de elite para enfrentar o crime organizado. O primeiro novo Baep será instalado em São Bernardo do Campo e o segundo na região de São José dos Campos. “Comigo será bandido na cadeia, ou morto se entrar em confronto com a polícia”, disse Doria logo depois de ser eleito.

Novo líder do PSDB

Mas Doria não deseja apenas revolucionar a gestão de São Paulo. Ele pretende também chacoalhar a política brasileira, transformando o PSDB, do qual tornou-se o principal líder ao vencer duas eleições de forma incontestável no principal Estado brasileiro. Doria pretende eleger para presidente nacional do PSDB, em maio, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que surge como uma das jovens lideranças do partido, que deverá assumir o tucanato com um novo olhar. “Temos que ir ao chão de fábrica, deixando as salas de ar condicionado que o partido frequentava até aqui”, disse Doria à ISTOÉ. Doria não quer dizer com isso que a atual direção do PSDB, que tem o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como presidente nacional, seja a razão de todos os males do partido.

“Não soubemos entender o que o povo queria. O eleitor deseja o novo, políticos comprometidos com ideias novas e não soubemos fazer essa leitura”, explicou o atual governador paulista. Portanto, Doria pretende não apenas desenvolver um governo voltado para a gestão, com características da iniciativa privada, cercado pelos melhores quadros, de uma ampla gama partidária, mas também direcionar o PSDB para novo patamar. Entre outras coisas, ele pretende aproximar do PSDB do atual presidente Jair Bolsonaro, antenado com os anseios de mudanças da população.

“Vamos apoiar tudo o que o Bolsonaro fizer de bom para o País”, explicou Doria. Por isso, o novo governador paulista não quer nem ouvir falar em candidatura para presidente da República em 2022, como muitos insistem em apregoar. “Por enquanto, quero apenas ser o melhor governador de São Paulo”, afirma Doria, que decidiu antecipar as solenidades de sua posse como governador para poder acompanhar de perto a posse de Bolsonaro em Brasília.