PEQUIM, 4 ABR (ANSA) – A governadora do território autônomo de Hong Kong, Carrie Lam, 64 anos, anunciou neste domingo (3) que não vai se recandidatar ao cargo e se aposentará da vida pública. A nova liderança será escolhida no dia 8 de maio durante uma reunião de um comitê com mais de 1,5 mil dirigentes públicos alinhados à China.
“Completarei o meu mandato de cinco anos em 30 de junho e concluirei oficialmente os meus 42 anos de carreira no governo local. Tratam-se dos meus desejos e das minhas aspirações pessoais que são baseadas inteiramente nas considerações familiares. Preciso colocar meus familiares em primeiro lugar e agora sentimos que é a hora para voltar para casa”, disse Lam durante um discurso.
Segundo o jornal “Sing Tao Daily”, o número dois do governo, o secretário de Estado, John Lee Ka-chiu, 64 anos, pode ser um possível substituto.
A líder ainda informou que Pequim “recebeu em bom tom” a decisão de não concorrer novamente. Com uma carreira pública bastante longa, Lam assumiu o cargo em 2017, tendo sida a primeira mulher a ser escolhida para o cargo.
O governo dela foi marcado por muitas convulsões sociais e por uma postura completamente pró-Pequim da líder. Em 2019, Hong Kong viveu imensas manifestações sociais que começaram pela oposição dos cidadãos à lei de extradição, que permitia que opositores fossem extraditados para serem julgados na parte continental da China, onde há a pena de morte.
Desse pedido inicial, o território começou a fazer uma série de demandas mais amplas por mais democracia e até mesmo por independência. Apesar da aparente normalidade política que voltou ao país em 2020 por conta da pandemia de Covid-19, a localidade aprovou uma duríssima nova legislação pró-China em junho de 2020, que classificou como terrorismo, sedição ou secessão uma série de protestos e atos populares.
Desde então, centenas de opositores foram presos e respondem por esses “crimes”, além de Pequim ter instalado departamentos de segurança e inteligência em Hong Kong. Basicamente, as novas regras alteraram grande parte dos artigos da Lei Básica, como é chamada a Constituição local.
As medidas fizeram com que os países ocidentais rompessem muitos dos seus laços comerciais com o território, que era visto como mais democrático do que a China, enquanto o governo de Xi Jinping dizia que as ações exteriores violavam a soberania nacional.
Além disso, Lam enfrenta um seríssimo problema sanitário no momento em Hong Kong com críticas dos próprios chineses. O território, que não adotou as mesmas duras regras de confinamento do continente, vive um surto de Covid-19 com milhares de casos e centenas de mortes. O local chegou a registrar falta de caixões para enterrar os mortos.
Esse intenso surto também avançou para a área continental, que vive o pior momento da pandemia, e diversos políticos chineses acusam o território de ser o responsável pelo avanço da crise sanitária. (ANSA).