Em qualquer área do entretenimento, repetir uma fórmula que deu certo é uma estratégia tão antiga como popular. A ideia de criar sequências de filmes que fizeram sucesso de bilheteria, portanto, não é novidade ­— basta lembrar que Francis Ford Coppola lançou O Poderoso Chefão 2 apenas dois anos depois do sucesso da produção original que conquistou o mundo em 1972.

No cinema brasileiro, porém, a aposta em continuações é um fenômeno relativamente recente. O setor cresceu com franquias populares, como Os Trapalhões e as comédias de Mazzaropi, mas até alguns anos atrás era improvável ver o complemento “parte 2” em filmes nacionais. A iniciativa, porém, começou a ficar mais popular na última década e, em 2024, as salas receberão uma infinidade de personagens conhecidos do público.

O primeiro a chegar às telas é Nosso Lar 2, cria da produção que levou mais de quatro milhões de pessoas aos cinemas em 2010. Conta a história de uma cidade astral frequentada por espíritos que se reúnem para aprender lições e compartilhar conhecimento. O grupo é lderado por Ancieto (Edson Celulari), cuja missão é ligar o mundo espiritual e a Terra. Segundo dados da Abraplex, associação responsável pelas exibidoras em cinemas multiplex, a saga mística está em exibição em 930 salas, espalhadas por 718 cinemas em todo o País —número surpreendente que corresponde a quase 30% das telas brasileiras.

Outra produção que pega embalo nos números positivos do filme original é Os Farofeiros 2. A comédia estrelada por Cacau Protásio, Maurício Manfrini e Danielle Winits, com direção de Roberto Santucci, foi vista por quase três milhões de espectadores em 2018 e tentará repetir o desempenho a partir de 7 de março, quando estréia.

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(Divulgação)

“É um personagem querido que ainda tinha muito a viver e contar, por isso resolvi escrever essa nova história.”
Marcos Jorge, diretor de Estômago 2

Com uma diferença de 16 anos, chega às salas Estômago 2 – O Poderoso Chef, de Marcos Jorge. A demora chama a atenção, uma vez que a obra foi bem recebida e chegou a ser premiada no exterior. “É um filme que encontrou muitos públicos ao longo dos anos e até hoje me proporciona um contato carinhoso com quem o descobre ou redescobre. Por conta disso, e por entender que um personagem tão querido ainda tinha muito para viver e contar, resolvi escrever essa nova história”, diz Marcos Jorge. Ele se refere ao protagonista Raimundo Nonato, interpretado com carisma pelo ator João Miguel. Ele faz o papel de um talentoso cozinheiro que cumpre pena em um presídio e acaba conquistando não apenas o diretor, mas o líder dos presos, Etecétera (Paulo Miklos) e um mafioso italiano (Nicola Siri).

Auto da Compadecida 2 chega quase 25 anos após a primeira versão. A amizade entre Chicó (Selton Mello) e João Grilo (Matheus Nacthergale), adaptada da obra de Ariano Suassuna, tem direção de Guel Arraes e Flávia Lacerda e sai no segundo semestre de 2024.

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Nosso Lar 2: cria da produção que levou mais de quatro milhões de pessoas aos cinemas em 2010 (Crédito:Divulgação)

Tiro n’água

A ideia de resgatar histórias conhecidas, porém, nem sempre tem sucesso garantido. Depende de diversos fatores, mas principalmente da qualidade da história — a audiência percebe se havia algo novo a ser contado ou se o lançamento é apenas caça-níquel.

Foi o que aconteceu nos EUA, onde foram lançadas 48 sequências entre 2022 e 2023, um recorde para o setor. Mesmo em um mercado tão consolidado, o exagero pegou mal: até mesmo os filmes de super-heróis tiveram resultados pífios, obrigando a indústria a repensar seus investimentos.

Além de apostar nas sequências, o mercado brasileiro tem outro motivo para ser otimista. Após ter expirado em 2021, a lei que estabelece cotas de tela para produções nacionais está de volta: o decreto publicado em 16 de janeiro pretende “promover a autossustentabilidade da indústria cinematográfica nacional e do parque exibidor, valorizando a cultura nacional e a universalização do acesso”, segundo diz o texto.

Os detalhes ainda serão definidos pela Ancine e entidades ligadas ao setor, mas as salas devem ser obrigadas a exibir 30% de produções nacionais — sejam elas sequências ou não.

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João Miguel como Raimundo Nonato, de Estômago 2: personagem carismático (Crédito:Divulgação)