A adoção de tratamento precoce e medicamentos sem comprovação científica no tratamento de covid-19 pelo governo federal foi embasada na recomendação de médicos, apontou o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn. “Sempre culpamos um gestor político por ter certas falas e posições, mas certamente quem embase esses políticos é a classe médica que traz essa dicotomia de informações”, disse Gorinchteyn há pouco, durante a 8ª Brazil Conference, evento organizado pela comunidade brasileira de estudantes em Boston (EUA) e transmitido pelo Estadão.

Ele citou nomes como o da médica Nise Yamaguchi e do médico e ex-deputado federal Osmar Terra para exemplificar grupos de médicos que forneceram recomendações baseados em experiências pessoais e não na ciência. “Sem dúvidas, houve um aparelhamento do ministério da Saúde, mas quem baseava ministério e governo eram médicos”, acrescentou.

Gorinchteyn cobrou representação dos Conselhos Regionais de Medicina baseada na ciência e disse que deixaram de fazer seu papel de representatividade da pesquisa durante a pandemia. “Precisamos que Conselhos se coloquem de forma ética e científica, à margem de bandeiras e de política. Precisamos de estrutura para representações de saúde, até mesmo para discutirmos quem serão nossos ministros da saúde, que se falseiam em jalecos médicos e fazem exatamente aquilo que o crivo político exige”, defendeu.

Já o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, avalia que os médicos foram o polo passivo das recomendações do Ministério da Saúde. “Quem mobilizou a indústria do Exército para produção de cloroquina e hidroxicloroquina e montou um gabinete paralelo foi a Presidência da República. Foi um movimento organizado do governo brasileiro. A cloroquina virou forma de se contrapor às vacinas e às medidas de isolamento social”, disse Covas, citando atos como a não publicação de uma nota técnica sobre os efeitos colaterais da cloroquina pelo ministério de Ciência e Tecnologia “O ministério da Saúde sofreu intervenção militar. No meio da crise foi nomeado um general como ministro”.


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