22/02/2021 - 18:54
Os militares de Mianmar tomaram o poder em 1º de fevereiro, prendendo a líder civil democraticamente eleita no país, Aung San Suu Kyi.
Enquanto os protestos continuam em todo o país, apesar da ameaça dos militares em relação ao uso de força mortal contra os manifestantes, aqui está uma cronologia dos eventos:
– De volta ao passado –
Os generais dão um golpe em 1º de fevereiro, prendendo a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Suu Kyi, e seus principais aliados políticos por meio de ações que ocorrem antes do amanhecer.
Termina ali a experiência de democracia de uma década em Mianmar, após quase meio século sob poder militar.
Os generais alegam fraude nas eleições de novembro, nas quais o partido Liga Nacional para a Democracia (NLD), de Suu Kyi, venceu de maneira esmagadora.
O golpe causa condenação global, desde o Papa Francisco ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
– Walkie-talkie –
Dois dias depois do golpe, as autoridades apresentam uma obscura acusação contra Suu Kyi, de 75 anos – por meio de walkie-talkies não registrados em sua casa, um crime sob a lei de importação e exportação de Mianmar.
– Cortes na internet –
A resistência ao golpe tem ocorrido com as pessoas promovendo ‘panelaços’ – uma prática tradicionalmente associada no país à expulsão de espíritos malignos.
A junta tenta bloquear plataformas de mídia social, incluindo o Facebook, que é extremamente popular em Mianmar. Mais tarde, blecautes noturnos no fornecimento da internet são impostos.
Suu Kyi, não vista em público desde o golpe, está em prisão domiciliar e “com boa saúde”, afirma seu partido.
– Desafio ousado –
A dissidência popular surgiu no fim de semana de 6 e 7 de fevereiro, com dezenas de milhares de pessoas se reunindo nas ruas pedindo a libertação de Suu Kyi.
A manifestação se espalha, com um terceiro dia consecutivo de protestos no último 8 de fevereiro e uma greve nacional à medida que centenas de milhares de pessoas participam de marchas anti-golpe em todo Mianmar.
– Toque de recolher –
Os militares alertam sobre a repressão e impõem toques de recolher noturnos, incluindo em Yangon, Mandalay e Naypyidaw – as três maiores cidades do país.
Mas apesar da proibição de reuniões de mais de cinco pessoas, os protestos continuam.
– Polícia dispara contra manifestantes –
Duas pessoas são feridas após disparos da polícia contra multidões em Naypyidaw em 9 de fevereiro, com uma jovem baleada na cabeça.
Apesar da violência e de uma batida na sede do partido do NLD em Yangon, dezenas de milhares de pessoas saem às ruas da cidade pelo quinto dia consecutivo.
O relator especial da ONU, Tom Andrews, alerta que a junta “não pode roubar a esperança e a determinação de um povo determinado”.
– Sanções americanas –
No mesmo dia, Washington anuncia sanções contra vários oficiais militares, incluindo o general Min Aung Hlaing, o chefe do exército agora no comando.
As Nações Unidas exigem a libertação imediata de Suu Kyi dois dias depois e consideram “inaceitável” o uso de violência contra os manifestantes.
– Escalada –
Min Aung Hlaing suspende as leis que exigem mandados para buscas em 13 de fevereiro, após a junta ordenar ao público que não esconda os manifestantes.
Na noite seguinte, as forças de segurança disparam contra os manifestantes e prendem jornalistas no norte do país.
– Nova acusação sobre Suu Kyi –
Em 16 de fevereiro, o advogado de Suu Kyi informa que ela recebeu uma segunda acusação, desta vez de acordo com a lei de gerenciamento de desastres naturais do país.
No dia seguinte, milhares se reuniram em Yangon jurando “lutar até o fim”, apesar do aumento de tropas e do medo de uma escalada de violência.
O Reino Unido sanciona três generais de Mianmar em 18 de fevereiro por violações de direitos após o golpe, enquanto o Canadá toma medidas semelhantes.
– Quatro manifestantes morrem –
Na sexta-feira, um manifestante baleado 10 dias antes morre, tornando-se símbolo de oposição à junta militar.
No fim de semana, mais três manifestantes foram mortos e cerca de 30 ficaram feridos enquanto a polícia disparava durante os protestos em Mandalay e Yangon.
– Junta ameaça com força letal –
A junta avisou na noite de domingo que está preparada para o uso de força letal, e o Ministério das Relações Exteriores protestou contra a “interferência em flagrante” de governos estrangeiros em seus assuntos internos.
Apesar das ameaças, centenas de milhares de manifestantes contra o golpe se manifestam novamente.
– Resposta internacional –
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condena a “força brutal” da junta militar e exige o fim da repressão.
A União Europeia concorda em aplicar sanções aos militares e suspender parte da ajuda de desenvolvimento do país.