Recentemente, a repórter Fabiola Andrade relembrou os últimos meses de vida do marido, Edu Azevedo, que morreu em junho de 2023. Ele foi vítima de um câncer no cérebro extremamente agressivo.

Em entrevista ao “UOL”, Fabiola detalhou que, em 2022, o marido começou a ter confusão mental e esquecimentos, apresentando sintomas similares aos de acidente vascular cerebral (AVC). No entanto, ele havia sido diagnosticado com glioblastoma grau quatro.

“A partir deste momento, eu prometi ao Edu que ficaríamos de mãos dadas até o momento da cura, até o último segundo. E foi assim. Após oito meses em que vivi uma tristeza infinita misturada com certa revolta até chegar na compreensão, o amor da minha vida partiu de mãos dadas comigo”, desabafou a repórter do grupo Globo, em entrevista.

 

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Para explicar o que é a condição, a IstoÉ Gente procurou as especialistas:

  • Dra. Ligia Coronatto, neurologista pelo Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (IAMSPE) e neuro-oncologista pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e Hospital Sírio Libanês. Coordenadora do Departamento Científico de Neuro-oncologia da Academia Brasileira de Neurologia e assistente no ambulatório de Neuro-Oncologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP);
  • Dra. Bruna Gambirasio, médica e neurologista pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), pós-graduada em Neuro-Oncologia pelo Hospital Sirio Libanês, assistente do ambulatório de Neuro-Oncologia da Escola Paulista de Medicina e ⁠Neurologista no Centro Neurológico e Neuro-Oncológico de São Paulo (CENOSP).

O que é glioblastoma?

O glioblastoma é o tumor primário de sistema nervoso central maligno de alto grau mais frequente em adultos. Conforme explica a Dra. Ligia, ele acomete “principalmente homens de idade avançada, variando de 55 a 65 anos”.

Segundo ela, a condição pertence ao subgrupo dos gliomas, classificados em quatro graus conforme sua agressividade. “O glioblastoma, considerado um tumor grau 4, tem maior agressividade e um pior prognóstico”, detalha.

E Dra. Bruna complementa: “Mesmo quando o cirurgião consegue retirar todo o tumor visível, existem células microscópicas em outros lugares do cérebro. Por isso, ‘remissão’ é uma palavra pouco utilizada para pacientes com glioblastoma”.

Diagnóstico e tratamento

“O diagnóstico é feito começando na suspeita clínica: sinais e sintomas que indiquem que há um processo de expansão de uma lesão dentro do cérebro. Começamos a investigação com exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, e o diagnóstico de confirmação vem com a biópsia”, explica Bruna.

A biópsia, segundo as especialistas, é feita após a retirada do tumor. Isso porque, com o diagnóstico, os pacientes já são encaminhados à neurocirurgia.

“O tratamento para o glioblastoma é individualizado, mas a primeira linha é embasada no protocolo ‘STUPP’, que prioriza a ressecção cirúrgica para retirada da maior parte possível do tumor. Ela é seguida de radioterapia associada a quimioterapia oral”, destaca Ligia.

“Muitas vezes, fazemos o tratamento preconizado e os pacientes ficam algum tempo sem progressão da doença. O tumor pode ficar alguns meses em estabilidade. Mas remissão ou cura é algo que, infelizmente, não acontece“, lamenta Bruna.

Ainda sobre a remissão, Ligia complementa: “Na literatura, podemos encontrar alguns relatos de casos sobre remissão completa associada a algum tipo de tratamento. Embora descritas, as remissões são incomuns e a história natural desse tipo de tumor é a progressão/crescimento.”

Glioblastoma X AVC

Assim conforme descrito por Fabiola, os sintomas de glioblastoma e de AVC são similares. Por isso, Bruna explica como diferenciá-los: “Os sintomas de AVC são causados por problemas vasculares. Pode ser tanto isquemia (falta de sangue) quanto hemorragia. E tudo o que é vascular, em neurologia, se apresenta de forma súbita. Os sintomas do AVC como perda de força, boca torta e alteração de sensibilidade acontecem de forma abrupta. Já o glioblastoma é um tumor que vai crescendo e, conforme isso acontece, os sintomas vão aparecendo no paciente. Então são sintomas que têm uma característica progressiva, eles evoluem ao longo de dias e meses.”

Por último, a especialista destaca que muitos dos sintomas dependem da área do cérebro em que o tumor acontece, já que cada uma delas tem funções diferentes.