A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva “protegeu” o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao admitir que o governo “dificilmente” cumprirá a meta de déficit zero em 2024. Para Gleisi, “o resultado primário zero será impossível no ano que vem”. A parlamentar transferiu parte da responsabilidade ao que chamou de “criminosa taxa de juros mantida nas alturas” pelo presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

Em café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto na sexta-feira, 27, Lula afirmou que a meta estabelecida por Haddad dificilmente ficará de pé. O presidente disse ainda que o mercado é “ganancioso” e faz cobranças irreais do governo. “Dificilmente chegaremos à meta zero até porque não queremos fazer corte de investimentos e de obras”, declarou Lula.

O ministro da Fazenda firmou o objetivo de déficit zero como necessidade para que o Arcabouço Fiscal dê certo, mas outros integrantes do governo tentam mover a meta para baixo. No sábado, 28, Gleisi publicou no X (antigo Twitter) que a fala de Lula não desautorizou Haddad. “O presidente Lula protegeu o ministro Fernando Haddad ao trazer para si a responsabilidade da política fiscal e reconhecer que o resultado primário zero será impossível para o ano que vem”, opinou Gleisi.

A presidente do PT elogiou o ministro da Fazenda, mas afirmou que não “depende dele” o cumprimento da meta fiscal. Ela aproveitou para criticar abertamente Campos Neto, com quem o governo tem divergências. “Infelizmente nem tudo depende dele [de Haddad] e da equipe econômica, como o crescimento da receita, por exemplo. Entram aqui Congresso Nacional, decisões judiciais, postergações administrativas. Também entra outro grande obstáculo, que é a criminosa taxa de juros mantida nas alturas pelo BC de Campos Neto”, escreveu ela.

Gleisi descartou uma possível reação negativa do Congresso às falas de Lula como “pura especulação” e “aposta de setores da mídia”. “O presidente Lula apenas assumiu que a realidade não permitirá o resultado almejado e, como um ponto importante de credibilidade, falou que a meta terá de ser reavaliada”, disse. “Quanto mais realistas as metas, menos complicadas ficam as negociações políticas. Sem drama, menos, a vida continua com a perspectiva de todos poderem melhorar”.

Na sexta, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024, Danilo Forte (União Brasil-CE), disse que a fala de Lula foi “brochante”. “As declarações do presidente Lula sobre o abandono da meta fiscal causam constrangimento ao ministro Fernando Haddad, que tem lutado muito para o atingimento do déficit zero a partir da aprovação da agenda econômica”, afirmou em nota à imprensa.

O presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI), declarou no sábado, 28, que a fala de Lula sobre o déficit “derrubou na prática o ministro da Fazenda e destituiu a estabilidade fiscal”. “Pensando bem, é mais barato Lula viajar…”, escreveu ele no X.

Mercado vê falas de Lula com preocupação

Analistas ouvidos pelo Estadão consideraram que a fala do presidente é um alerta muito ruim para o futuro das contas públicas. A leitura é que o posicionamento de Lula desmoraliza os esforços da equipe econômica e dá forças para a ala política que busca o aumento de despesas.

O colunista do Estadão Ricardo Corrêa escreveu que o presidente deu mais munição para os bombardeios conta o governo. “Cabe a seus ministros agora lidar com eles. Fernando Haddad, por exemplo, é um dos que terá trabalho nos próximos dias, após o presidente dizer o que o mercado já suspeitava, mas cujas fantasias se desfazem após uma fala bem direta”, opinou.