Coppola diz que Glauber Rocha chorou em seus braços durante exílio: ‘Achou que nunca mais voltaria ao Brasil’

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Francis Ford Coppola durante masterclass em São Paulo, nesta segunda-feira, 28 Foto: Divulgação - Mariana Atallah

O cineasta Francis Ford Coppola, de 85 anos, disse nesta segunda-feira, 28, durante uma Masterclass para convidados e a imprensa, que o diretor brasileiro Glauber Rocha chorou em seus braços no exílio durante a Ditadura Militar, pois “nunca mais poderia voltar ao Brasil”.

Segundo o diretor de clássicos como a trilogia “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now”, que agora lança um de seus projetos mais ambiciosos, “Megalópolis”, Glauber morou por um período em sua casa em São Francisco, na Califórnia, no início dos anos 1970, durante as perseguições a intelectuais e artistas brasileiros pelo regime militar.

“Um dia ele [Rocha] veio até mim, eu o segurei nos braços e ele chorou dizendo: ‘Eu não acho que meu amado Brasil um dia vá me permitir voltar para casa’. E eu sei que ele eventualmente voltou. Mas imagine, um de seus grandes cineastas em lágrimas porque ele pensou que não poderia voltar ao país que ele amava. Ele voltou e morreu aqui.”

Um dos criadores do Cinema Novo, Glauber dirigiu filmes como “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”, além de ter criado a frase “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” — que sintetiza o movimento e dialoga com a visão criativa de Coppola. O diretor americano, por sua vez, é um dos principais nomes da Nova Hollywood, movimento dos anos 1960 marcado por embates entre cineastas com grande veia autoral e grandes estúdios de Hollywood.

Coppola fez questão de ressaltar a importância de títulos que se tornaram clássicos do cinema brasileiro: “[O Brasil] tem uma extraordinária tradição cinematográfica, não só com Glauber Rocha, mas também com Hector Babenco, de ‘Pixote’, e o fabuloso ‘Cidade de Deus’”, disse o cineasta, que exaltou a arte do Brasil. “A arte do Brasil, a música, a pintura, [Heitor] Villa Lobos… é impressionante quão linda é”, finalizou.

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