22/07/2021 - 18:18
Em uma atitude inédita contra a sexualização da ginástica artística, as atletas da Alemanha se apresentaram com calças em vez dos tradicionais collants no treino de pódio na Olimpíada de Tóquio-2020. Nesta quinta-feira (22), as ginastas Kim Bui, Elisabeth Seitz, Sarah Vossi e Pauline Schaefer usaram o novo modelo de uniforme nos treinos realizados no Ariaek Center, em Tóquio.
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As alemãs não confirmaram se vão repetir o traje nas competições oficiais, que começam neste sábado nos Jogos Olímpicos. Em geral, as atletas mantém suspenso sobre o traje e os detalhes da apresentação.
Embora inédito em competições olímpicas, o uso de calça não é novidade para elas. A primeira a competir com um uniforme que cobrisse nádegas, pernas e virilhas foi Sarah Vossi no Campeonato Europeu da modalidade, no mês de abril, na Suíça. Ela chama o movimento de #ItsMyChoice (Minha escolha).
“Foi particularmente importante para nós dar o exemplo com a nossa aparência para encorajar outras mulheres e especialmente as atletas mais jovens a usar o que elas se sentem mais confortáveis! Este pode ser o amado collant curto ou o terno longo”, escreveu a ginasta nas redes sociais. Ela destacou que as atletas têm direito de decidir sobre o traje. “Nos reservamos o direito de decidir, dependendo da situação, em qual nos sentimos mais confortáveis no momento”.
Para a ginasta, a possibilidade de escolher a roupa pode trazer mais força às atletas. “É importante que possamos determinar como aparecemos a qualquer momento. A nova possibilidade de autodeterminação quanto à escolha das roupas nos dará ainda mais forças no futuro. Sinta-se bem e ainda pareça elegante, por que não? Como é que você gosta?”, escreveu Sarah.
De acordo com as regras da Federação Internacional de Ginástica (FIG, na sigla em francês), as atletas podem usar uma “malha de uma só peça com pernas compridas, do quadril até o tornozelo”, desde que tenha um design elegante.
A preocupação com a sexualização na ginástica ganhou relevância depois do escândalo que resultou na prisão Larry Nassar, ex-médico da Federação de Ginástica dos Estados Unidos (US Gymnastics, em inglês) e da Universidade de Michigan. Ele foi condenado a 125 anos de prisão por pedofilia e abuso sexual contra mais de 350 atletas, entre meninos e meninas. A US Gymnastics e o Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC, na sigla em inglês) estão sendo processados por pais de ginastas e ex-ginastas que acusam as entidades de acobertar as ações de Larry Nassar.
Uma das vítimas é Simone Biles, que conquistou quatro ouros e um bronze na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016. Ela disse ter sido abusada sexualmente por Nassar e afirmou que um dos motivos de ela estar competindo em Tóquio-2020 é para falar abertamente sobre o tema.
O Brasil também viveu drama semelhante. Em maio de 2018, o ex-técnico da seleção brasileira masculina de ginástica artística, Fernando de Carvalho Lopes, foi acusado de abusar sexualmente de 40 atletas e ex-atletas. O caso veio à tona em reportagem exibida pelo Fantástico, da TV Globo. O caso corre em segredo de Justiça.