15/11/2019 - 20:00
A verdade é que não há jabuticaba só no Brasil, embora todo o mundo acredite que fruto em tronco só tem aqui. Será então por isso que, quando a gente olha para as notícias já nem repara que a mentira virou esporte nacional?
Se a news for boa, será que interessa se é fake? Qual é a diferença se o Gilmar Mendes vai cair ou se ele já caiu? É mais importante a verdade ou o tamanho da mentira? Será melhor uma boa ditadura, ou uma má democracia?
Os jornalistas de verdade — como tem aqui na IstoÉ — estão perdendo a influência e cada vez mais são incapazes de informar seus leitores. De os formar. De defender o povo da mentira e de ajudar a proteger a democracia. Dá vontade de gritar: Acreditem neles, pô!
Os jornalistas têm um contrato com os leitores, que mais nenhum outro produtor de conteúdo tem. Um contrato simples que – apesar dos muitos erros que se cometem — protege sempre o público: o jornalista tem de contar a verdade.
É certo que todo o mundo – até os jornalistas — interpretam os factos pelos seus olhos; e o que os seus olhos vêm, muitas vezes são coisas distintas e de acordo com a visão que cada um deles tem do mundo. Os jornalistas se deixam influenciar pela política e pelos políticos, pelo fervor com que defendem o seu time, e às vezes também são capazes de ver coisas que não existem.
São capazes de ver bondade nas ditaduras, alegria no derrube de uma árvore da Amazônia, tristeza no samba e monotonia no futebol. Podem até acreditar que o homem nunca chegou na lua, ou que uma ditadura possa ter sido justa.
Jornalista pode até acreditar Jesus é Santo e o Flamengo o seu profeta, mas em mais de trinta anos de jornais, eu nunca conheci nenhum jornalista — homem ou mulher, novo ou velho — que mentisse deliberadamente. Nunca encontrei um jornalista que esquecesse o acordo que fez com o seu leitor.
Quando estudei jornalismo, faz 30 anos, na Universidade de Coimbra em Portugal, ainda não existia a internet. Então aprendi que notícias são relatos de fatos. Que notícias se escrevem e constroem usando uma técnica que ajuda a que as coisas mais interessantes sejam ditas em poucas palavras, mostradas em poucas imagens.
Mas quando eu estudei ainda não havia internet, nem Twitter e o jogo da velha era uma apenas uma brincadeira de guri. Não um manifesto constante contra a democracia.
Tem dias que dá vontade de chutar o pau da barraca, beijar o Homem de Lata e emigrar de vez para o país das maravilhas. #Eita!
Nota. Apesar de ter origem brasileira, a jabuticaba não existe só por aqui. A jabuticabeira, que pertence à família Myrtaceae, nasce com facilidade em regiões próximas aos trópicos. Existem exemplares em vários países da América Latina, como México e Argentina. No Brasil, ela floresce de Norte a Sul, mas tem maior ocorrência na região sudeste.