Gilmar volta atrás e anula decisão que restringia à PGR pedidos de impeachment

Há uma semana, ministro havia decidido que impeachments de magistrados do STF não poderiam mais ser solicitados pelo Congresso

Gilmar Mendes, decano do STF
Gilmar Mendes, decano do STF Foto: Fellipe Sampaio/STF.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), recuou na sua própria decisão e suspendeu, nesta quarta-feira, 10, o trecho da liminar que limitava à Procuradoria-Geral da República a iniciativa para apresentar pedidos de impeachment contra ministros da Corte.

A determinação divulgada há uma semana suspendia trechos da Lei do Impeachment de ministros do Supremo, restringindo o direito de apresentar denúncias contra magistrados e transferindo a atribuição à PGR, hoje chefiada por Paulo Gonet. Pelas regras tradicionais, cabe à presidência do Senado analisar os pedidos protocolados e, em caso de consentimento, instaurar um processo que depende de maioria simples (41 votos) para aprovação.

Quando Gilmar anunciou a mudança no regimento, parlamentares e senadores receberam a notícia com insatisfação. O próprio presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), disse ter encarado com “preocupação” e chamou a alteração de tentativa de “usurpar as prerrogativas do Poder Legislativo”.

No Senado, Gilmar desagradou da base à oposição

A fala de Alcolumbre coroou a revolta dos senadores com a decisão do decano, que era provisória e ainda precisaria ser avaliada pelos demais ministros da corte a partir do dia 12 de dezembro.

Antes do presidente da Casa se pronunciar, os senadores Eduardo Girão (Novo-CE), Esperidião Amin (PP-SC), Marcos Rogério (PL-RO), Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) e Plínio Valério (PSDB-AM) usaram o púlpito do plenário para pedir uma “reação efetiva” ao Judiciário.

À IstoÉ, o tucano disse que a liminar “anula o Senado Federal” e “permitir esse devaneio é reconhecer que não servimos mais para nada“. Em notas, Carlos Viana (Podemos-MG) e Sergio Moro (União Brasil-PR) engrossaram o coro.

“A decisão corrói o equilíbrio institucional e enfraquece o papel do Parlamento. O Supremo guarda a Constituição, mas não existe guardião acima da própria Constituição”, afirmou o mineiro. Já o ex-juiz da Operação Lava Jato disse que Mendes “legislou em causa própria” e equiparou a liminar à PEC da Blindagem – projeto que restringia os instrumentos de investigação contra parlamentares, aprovado na Câmara e rejeitado pelos senadores.

Mesmo membros da base do governo Lula (PT), como Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM), criticaram a liminar e defenderam a proteção das prerrogativas do Senado. “A independência dos Poderes prevê que uma lei não pode ser revista por decisão monocrática”, disse o emedebista.

Na Câmara, a bancada do partido Novo apresentou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para reforçar o artigo da Constituição que autoriza qualquer cidadão a pedir o impeachment de integrantes da cúpula do Judiciário. O texto ainda prevê a manutenção das prerrogativas atuais de condução do processo.