08/07/2024 - 10:25
Se existe uma coisa que as estrelas de Hollywood conseguem é chamar a atenção. Foi assim que o P-22, o puma que ganhou fama ao ser retratado junto ao mítico cartaz da meca do cinema, simbolizou a luta da vida selvagem encurralada pelo desenvolvimento urbano na Califórnia.
O puma, ou onça-parda, batizado por sua coleira de rastreamento, surpreendeu ao superar desafios urbanos e passar a maior parte de sua vida nas colinas de Hollywood, tão próximo de seus habitantes quanto qualquer outra celebridade.
“Os pumas são uma das muitas espécies ameaçadas pela expansão urbana”, disse Andy Blue, do Ramona Wildlife Center da San Diego Humane Society.
“Esses animais são nativos dessas áreas, vivem aqui desde sempre e agora estamos construindo casas e estruturas em suas propriedades. A interação é inevitável”.
Essa proximidade começa a caracterizar cidades como Los Angeles, onde ver coiotes nas ruas se tornou tão comum para os recém-chegados quanto ver grandes cartazes ou telas luminosas.
Essa mudança também produziu um processo lento mas constante de sensibilização sobre o impacto do desenvolvimento urbano sobre os animais e sobre como preservar o que resta.
A caça, o uso de rodenticidas, as colisões com veículos e o aumento de incêndios e inundações, consequência da mudança climática acelerada pela ação humana, são as principais ameaças à vida selvagem na Califórnia, explicou Blue.
Uma das ações mais ambiciosas nesse sentido é a construção do corredor de animais Wallis Annenberg, nos arredores de Los Angeles.
A primeira fase do projeto será lançada em 2025. A área estende-se sobre as dez faixas da Rodovia 101, uma das vias arteriais mais movimentadas do sul da Califórnia.
O corredor, uma espécie de fenda ecológica orçada em 80 milhões de dólares (valor em cerca de 439,7 milhões de reais na cotação atual), será o maior do gênero no mundo e beneficiará espécies nativas obrigadas a enfrentar uma rodovia que registra mais de 300 mil passagens diárias.
Gill destacou que isso ajudará até mesmo pássaros pequenos como os “wrentit” nativos (Chamaea fasciata), “que são tão pequeninos que as correntes de vento geradas pela rodovia os impedem de atravessar”.
A procura por este tipo de iniciativa é evidente no Ramona Wildlife Center.
“Um a dois pumas são atropelados por carros semanalmente na Califórnia, e é a principal causa de morte de pumas no estado”, disse Andy Blue.
“Todo animal que chega aqui está doente, órfão ou ferido”, acrescentou o porta-voz do centro que recebe de tudo, desde guaxinins a ursos.
“E pode ser porque a mãe foi atropelada por um carro, ou os enormes incêndios florestais no sul da Califórnia separaram os filhotes dos pais, ou as enchentes causadas pelas chuvas que tivemos alguns anos atrás.”
Para Blue, reeducar a comunidade sobre como lidar com os animais é fundamental para garantir a convivência.
“Não precisamos de muito para facilitar a vida deles”, concorda Johanna Turner, fotógrafa da vida selvagem que instalou inúmeras câmeras em vários lugares nos arredores de Los Angeles para fotografar animais em seu habitat.
“Eu só quero que as pessoas saibam o quão sortudas elas são por terem essa natureza selvagem”, disse ela em uma colina próxima com vista para o mar de luzes de Los Angeles. “E pode desaparecer. Pode acabar muito rápido.”
“Estamos tão acostumados com histórias trágicas sobre a vida selvagem, e com desistir e dizer ‘isto é uma cidade, simplesmente não pode estar aqui'”, refletiu Turner. “P-22 nos mostrou que isso [a “convivência” com os animais] pode ser feito.”
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