Na semana passada, Xi Jinping e Donald Trump, líderes das maiores potências globais, trocaram golpes de forte impacto na luta entre China e EUA pela hegemonia econômica global. Na segunda-feira 2, Jinping reagiu à decisão de Trump de sobretaxar o aço chinês, anunciada em março, e afirmou que elevará em até 25% as tarifas sobre 128 bens de consumo fabricados nos Estados Unidos e importados pela China. Entram na lista vinhos, frutas, nozes e porco congelado. Juntos, os itens somam cerca de US$ 3 bilhões. Desde então, ofensivas foram feitas por ambos os países, com retaliações atrás de retaliações. No dia seguinte, os EUA anunciaram uma proposta de lista com 1.300 produtos chineses sobre os quais poderão incidir os mesmos 25% de impostos sobre importação. São produtos da indústria tecnológica, aeroespacial, material educativo e aparelhos médicos. Após a resposta americana, a China contra-atacou novamente e divulgou na quarta-feira 4 a implementação de uma taxa alfandegária sobre aviões, carros, produtos químicos e até a soja — vital para a economia americana e cuja venda para a China corresponde a um terço de toda produção.

“Esta é uma negociação que está usando todas as suas armas”, disse Larry Kudlow, conselheiro econômico da Casa Branca, tentando amenizar os rumores sobre a iminência da maior guerra comercial das últimas décadas. Donald Trump postou em seu Twitter que “essa guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os EUA. Agora nós temos um déficit comercial de US$ 500 bilhões por ano, com roubo de propriedade intelectual de outros US$ 300 bilhões. Nós não podemos deixar isso continuar.”

O déficit comercial dos EUA vem crescendo há anos. Em 2017, a alta foi de 8,1%. A China é a responsável por mais da metade do desequilíbrio da balança. Virar esse jogo é uma promessa de campanha de Trump, que acusa o país asiático de roubar a inteligência americana por meio de regras injustas de licenciamento. Além de anunciar o aumento das taxas sobre a importação de alumínio e aço (commodity que tem na China o maior produtor mundial), a Casa Branca informou que sobretaxaria as importações de produtos chineses em até US$ 60 bilhões. As decisões chinesas anunciadas essa semana são uma resposta às medidas de Trump.

Lucros

Apesar da tensão, os dois países desejam chegar a um acordo, uma vez que teriam muito a perder com um rompimento de suas relações comerciais e diplomáticas. “Parte significativa das exportações chinesas aos Estados Unidos são realizadas por grandes empresas americanas e europeias operando na China”, diz Gilmar Masiero, coordenador do Programa de Estudos Asiáticos da USP. “Empresários americanos, europeus ou chineses não são movidos por nacionalismos ou fidelidades ideológicas, mas por lucros. Não é por acaso que a China se transformou na plataforma manufatureira do mundo”. Para que a atual disputa não conflagre uma guerra, Trump terá de aceitar que os Estados Unidos deixaram de ser uma liderança potencialmente inatingível. A China já mostrou que tem força suficiente para revidar as ofensivas norte-americanas.

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