“Esse não é o dirigível do seu avô.” É assim que a startup norte-americana H2 Clipper se apresenta ao mercado. A superioridade comparativa faz referência aos zepelins do passado, máquinas altamente inflamáveis e poluentes, movidas a gás propano. A empresa com sede na Califórnia tem grandes ambições em relação ao mercado de transporte aéreo de cargas: promete revolucionar o setor com um dirigível atualmente em fase de testes que ganhou o apelido de “Pipeline in the Sky” (algo como “Oleoduto Aéreo”). O projeto usa células de hidrogênio como combustível e permitirá aos poderosos motores elétricos percorrer distâncias de mais de 9.500 km a velocidades de até 280 km/h.

O veículo, porém, não será movido apenas com o uso de gases. Afinal, o hidrogênio ainda é um elemento inflamável. O produto será usado para gerar energia e, com isso, mover os motores elétricos. “O hidrogênio é muito mais leve do que o ar o que facilita que o dirigível se mantenha em elevação”, explica Filippo Fogaccia, professor de Química do Colégio Mackenzie. Essa tecnologia possibilitará o transporte de até 150 toneladas de carga útil ou 7.500 metros cúbicos – 8 a 10 vezes mais espaço de carga do que qualquer outro cargueiro aéreo, e mais rápido do que os cargueiros marítimos.

Apesar de os números divulgados pela empresa serem impressionantes, Fogaccia explica que a técnica de usar o hidrogênio como aliado não é revolucionária, já que há iniciativas até no setor automotivo para implementar seu uso. “Ao contrário dos combustíveis fósseis, o resíduo que o hidrogênio produz é vapor de água”, diz. Além das mudanças para o meio ambiente, a H2 Clipper diz que os custo do transporte de carga deverá ser quatro vezes menor do que o atual, o que poderá até reduzir os preços de determinadas mercadorias ao consumidor final. A H2, no entanto, terá concorrência: a britânica Hybrid Air Vehicles desenvolve o projeto Airlander, dirigível semelhante ao Clipper, que atuará no setor de transporte de cargas e também no de passageiros. Em breve, veremos novos gigantes nas nuvens.

Passado perigoso

Não é possível falar sobre dirigíveis sem lembrar da tragédia de Hindenburg, em maio de 1937, que matou 37 pessoas. Após realizar mais de 62 voos bem sucedidos, o luxuoso modelo LZ-129 pegou fogo pouco antes do pouso. Por causa de um vazamento de gás, foi completamente destruído pelas chamas em menos de um minuto. Registrado em vídeo, o desastre chocou o mundo e acabou com a indústria de dirigíveis.