Temos escutado tanto sobre o que seria o luxo hoje em dia. Fala-se que luxo é ter tempo para curtir a vida. Tempo para viajar e aproveitar as coisas simples. Luxo seria também a oportunidade de fazer escolhas sustentáveis, andar de bicicleta para ir ao trabalho, assistir Netflix antes de dormir e comer avocado orgânico ao acordar, tudo postado e compartilhado com emojis engraçadinhos #lovemylife #vidatop #gratidao #simplicidade. Tudo muito lindo. Mas fora da bolha branca pseudo-intelectual-classe-média-hipster, as coisas não estão assim tão fofinhas. O Brasil está em guerra, a corrupção corre solta, a comida está acabando, o topete do Trump só cresce, os barcos apinhados de refugiados continuam tombando no mesmo oceano que baleias são encontradas mortas com o estômago cheio de embalagens plásticas. O mundo está fodido e nós não sabemos de absolutamente coisa nenhuma. A sensação é que, quanto mais nos informamos, mais descolados da realidade ficamos.

Nesse sentido, o design parece ser um interessante reflexo do conflito “vida real versus vida simples”. Apesar de nós, designers, insistirmos em desenhar lindos produtos, sabemos que o mundo não precisa de mais uma belíssima cadeira, nem de mais uma maravilhosa mesinha de centro. O design também está em crise. Mas se a melhor definição do que é design é “resolver problemas”, vejo uma série de iniciativas que me entusiasmam nesta profissão. Projetos colaborativos e multidisciplinares têm surgido em diferentes países, como nos concursos internacionais para impulsionar soluções que impactam positivamente nas mudanças climáticas, como a organização holandesa “What design can do?” que problematiza a real necessidade do design nos tempo atuais e provoca profissionais a se unirem para propor soluções de impacto global. Outro exemplo é uma nova área chamada “Design de emergência”, pensada para o desenho que ampara desastres e catástrofes naturais, como moradias temporárias e água potável.

Tenho notado também um movimento crescente de designers que levam sua expertise do desenho de produtos e de interiores para resolver questões na escala urbana, impactando no dia a dia das nossas cidades, em projetos que tangenciam noções de autoestima, memória e empoderamento. Como no desenho de mobiliário público, praças temporárias, iluminação e sinalização da cidade. Ou ainda nas recentes experimentações com arte urbana e seu enorme potencial em requalificar áreas degradadas.
O simples não existe. Das crises emergem possibilidades e soluções. Uma nova economia, amparada pela cultura dos bits, e por um suposto ativismo digital que vem conectando pessoas e projetos transformadores através da internet, abre um horizonte de novas possibilidades e redefine para sempre o futuro das nossas profissões e os caminhos que a nossa sociedade deve tomar. Luxo hoje é poder escolher quais desses caminhos tomar e como iremos investir nossa energia criativa.