Geovani Martins costuma brincar que é um profeta. Quando enviou um conto para o concurso promovido por uma biblioteca, ele comentou com Erica, sua namorada, que a bicicleta prometida como prêmio seria sua – e foi. Depois, faturou um Kindle. Até que, no ano passado, anunciou aos familiares e amigos que escreveria um livro que, publicado, encantaria críticos e público. Os primeiros já estão boquiabertos com O Sol na Cabeça, seleção de 13 contos que a Companhia das Letras lança neste fim de semana com uma tiragem digna de um promissor campeão de vendas (10 mil exemplares).

O entusiasmo da editora não é exagerado – antes mesmo de chegar às livrarias brasileiras, a obra já foi negociada para oito países (a China fechou contrato na terça-feira, 27). “Tenho certeza que Geovani vai figurar na lista dos grandes lançamentos do ano de diversos países”, aposta o editor Luiz Schwarcz, da Companhia.

E, com o faro apurado para descobrir textos que podem render ótimos roteiros, o produtor Rodrigo Teixeira já arrematou os direitos para o cinema do livro por um valor, segundo apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, superior ao que está habituado a pagar. Para dirigir a adaptação, foi convidado o cineasta Karim Aïnouz (Madame Satã, Praia do Futuro). “Gostei da escolha, pois Karim filma principalmente os sentimentos dos personagens”, conta Geovani.

O rapaz conversa com a reportagem em seu apartamento, no morro do Vidigal, no Rio. Aos 26 anos, ele revela uma incrível segurança para quem tem a vida mudando radicalmente nos últimos meses. Afinal, desde que seus contos poderosos foram apresentados ao cronista Antonio Prata, que, assombrado com a qualidade apresentada por um iniciante sem nenhuma carreira acadêmica, mas moldado unicamente pela própria sensibilidade, levou os originais à editora, sua rotina virou de ponta-cabeça. “Chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação”, observa Prata.

Diante de tanta empolgação, Geovani apenas observa tudo com tranquilidade, alisando a farta cabeleira loura e exibindo um sorriso tão largo que comprime os olhos. O menino que nasceu em Bangu se transformou em profeta.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.