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Quando os doze jurados se reuniram na sala secreta do Tribunal do Júri da cidade norte-americana de Minneapolis, na semana passada, para decidirem sobre o destino do réu Derek Chauvin, estava em jogo muito mais que a sua culpa ou inocência. Por unanimidade, fez-se justiça e ele foi merecidamente condenado pelo assassinato de George Floyd. Com isso, o mundo, hoje, respira mais aliviado na questão do racismo estrutural que há nos EUA, respira mais aliviado em relação ao preconceito que teima em sobreviver em diversas nações. Juntamente com Chauvin, condenou-se a discriminação. Foi isso que esteve sendo decidido, na segunda-feira 19, por seis mulheres brancas, dois homens brancos, uma mulher negra e três homens negros. Venceu a civilidade; da barbaridade arrancou-se a máscara da autoridade. Em 25 de maio do ano passado, o agora ex-policial branco Chauvin permaneceu, por nove minutos, esmagando com o seu joelho esquerdo o pescoço do negro George Floyd, que teria tentado pagar tabaco com uma nota falsa de US$ 20 — o sadismo se deu quando Floyd já estava detido e imobilizado. O caso desencadeou uma corrente de protestos, não apenas nos EUA mas em diversos países, com a criação do movimento “Black Lives Matter”. Vídeos com áudios

25 DE MAIO DE 2020 Chauvin mata Floyd: “não… con… si… go… res… pi… rar” (Crédito:Divulgação)

correram o planeta com a cena e nela se ouvem os murmúrios agonizantes da vítima: “Não… con… si… go… res… pi…rar”. A legislação americana blinda policiais, é comum o assassinato de negros em suas mãos (uma adolescente preta foi morta em Columbus horas antes do veredicto de Chauvin) e é frequente a absolvição dos loiros fardados. No episódio de Floyd, os jurados mostraram que “Vidas Negras Importam”. Ou, como preconizara em 2020 Gianna, a filhinha de Floyd que tem seis anos de idade, “o papai vai mudar o mundo”.

Do juiz aos jurados

O juiz Peter Cahill fez sensatas recomendações aos jurados:

• Não tenham pressa. Demorem o tempo que for necessário para decidirem
• Consultem suas consciências, vejam se têm preconceitos
• Ouçam uns aos outros

Nos EUA, a dosimetria da pena pode demorar até dois meses. O réu aguarda esse tempo e os recursos na cadeia.

CUBA
A ditadura continua

DOIS QUE PODEM SER UM Miguel Díaz-Canel (à esq.) e Raul Castro: Idênticos na vazia ideologia comunista (Crédito:Alexandre Meneghini)

Em Cuba, sempre que um sobrenome Castro, isso mesmo, Castro de Fidel e Raúl, declarou que se afastaria do poder ocupado pelo clã há sessenta e dois anos, foi mentira. Na semana passada, conforme era aguardado, o 8º Congresso do Partido Comunista do país elegeu Miguel Díaz-Canel como primeiro-secretário da legenda e tornou oficial a saída de Raúl Castro do Birô Político (instância máxima do governo). Ele se tornara o número um do poder e da burocracia comunista em Cuba em 2006, quando seu irmão, Fidel, bastante doente, teve de deixar o comando da nação, exercido de forma ditatorial ao longo de quarenta e sete anos, a partir de 1959. Fidel jurou sair de cena, mentiu, e, afastado, ainda mandava. Agora é a vez do jogo de Raúl, que também promete a aposentadoria que não cumprirá. Isso se traduz pelas palavras do próprio Díaz-Canel: “Garanto a Raúl que seguirei a consultá-lo sobre as decisões para o futuro da nação”. Na verdade, nada mudará na ilha: Raúl ainda terá muita influência na cúpula do Birô. Mais: Não haverá mudanças políticas no país, Cuba continuará tendo partido único (o comunista) e manterá o “sistema de economia planificada”, na qual as empresas estatais dominam praticamente todas as atividades. A ditadura apodrece, mas continua.

RIO DE JANEIRO
O doce e o tiro

VÍTIMA Kaio Guilherme: A bala que o atigiu não é culpa do destino, mas, sim, de governantes (Crédito:Divulgação)

Que direito tem o destino de tirar doce da boca de uma criança com um tiro em sua cabeça? Foi assim com Kaio Guilherme da Silva Baraúna, oito anos de idade. Estava numa festa infantil, bem organizada sanitariamente, no bairro fluminense de Bangu. Na fila dos doces, distanciamento mantido. Ele, água na boca, levou um tiro perdido na cabeça. Mas não culpemos o destino, e, sim os últimos governantes do Rio de Janeiro, que deram o estado a traficantes, milícias e policias despreparados. Até a quinta-feira 22, Kaio seguia hospitalizado em quadro gravíssimo.
Ele é a centésima criança baleada no Grande Rio em cinco anos.