Walter Braga Netto, ex-ministro e candidato derrotado a vice-presidente de Jair Bolsonaro (PL), preso pela Polícia Federal por obstruir a Justiça nas investigações de uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, se tornou neste sábado, 14, o primeiro general de quatro estrelas a ir para a cadeia no país.

Os policiais apuraram que Braga Netto participou de dois núcleos da trama criminosa e foi personagem central na tentativa de convencer os comandantes das Forças Armadas a embarcarem no plano de ruptura institucional. Esses papéis refletem a posição hierárquica do ex-ministro no Exército, como explica o site IstoÉ neste texto.

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As patentes

Concluída a formação em uma academia militar, o início de carreira de um servidor no Exército é como soldado. Em seguida, o militar ascende às patentes de taifeirocabo, terceiro-sargento primeiro-sargento.

Os fardados prosseguem suas carreiras para o posto de subtenente e, então, aspirante. A hierarquia é seguida pelo segundo-tenente, patente que Braga Netto conquistou em agosto de 1979, quatro anos após a formação militar.

Em seguida, vem a patente de primeiro-tenente, que antecede a de capitão. Depois disso, major, antes de tenente-coronel e coronel.

General quatro estrelas: entenda posição de Braga Netto na hierarquia do Exército
Exército brasileiro, em Brasília – AFP

Esta é a última patente antes do ingresso no chamado “generalato”, em que o militar assume o comando de tropas. Nesta condição, há três patentes, que são divididas em estrelas: general de brigada (duas), general de divisão (três) e general de Exército (quatro), a mais alta da corporação.

Ao conquistar a quarta estrela, em 2006, Braga Netto entrou para o Alto Comando do Exército, que reúne o comandante — nomeado pelo presidente da República, chefe das Forças Armadas — e os generais de quatro estrelas, que são 15 no país.

Na condição, Braga Netto foi comandante militar do Leste e chefiou a intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro, por nomeação do então presidente Michel Temer (MDB), em 2018.

De 2019 a 2020, comandou o Estado-Maior do Exército, seu último posto com farda antes de migrar para a reserva e embarcar na política. No mandato de Bolsonaro, foi ministro da Casa Civil e da Defesa, até deixar a Esplanada a tempo de concorrer nas eleições de 2022 como vice do ex-chefe, chapa que foi derrotada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB).

‘Figura central’ na trama golpista

A prisão por obstrução à Justiça concretizou a avaliação dos policiais de que Braga Netto teve participação fundamental na tentativa frustrada de golpe de Estado após a derrota nas urnas. Citado 98 vezes no relatório da Operação Contragolpe, o general foi indiciado por tentativa de abolição do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Entre novembro e dezembro de 2022, Braga Netto abrigou reuniões com militares golpistas em sua casa, deu ordens para o ex-major Ailton Gonçalves Barros fazer ataques pessoais ao então comandante do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e ao então comandante da Aeronáutica, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, na tentativa de convencê-los a aderir ao plano e orientou “disseminação de notícias, com o objetivo de atingir a reputação do general Tomás Miguel Miné Ribeiro de Paiva, atual comandante do Exército, integrante do Alto-Comando do Exército (ACE), que também adotou uma posição legalista”, de acordo com os policiais.

Segundo o depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, o ex-ministro ainda entregou dinheiro vivo a soldados das Forças Especiais (os chamados “kids pretos”, que seriam centrais para colocar a ruptura institucional em prática), em sacolas de vinho.

Desde que foi indiciado junto a outras 37 pessoas pelos episódios, Braga Netto estaria atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal, o que justificou sua detenção. De acordo com a PF,  a medida “tem como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas”.