O Brasil só não é uma ditadura porque o general Augusto Heleno toma remédios tranquilizantes. Pelo menos é isso o que ele acha, baseado na frase que pronunciou essa semana: “tenho tomado Lexotan na veia diariamente para não levar o presidente Jair Bolsonaro a tomar uma atitude mais drástica”, disse ele, em referência ao que considera ingerências do Supremo Tribunal Federal (STF) nas decisões do Executivo.
Não é a primeira vez que o militar tenta ameaçar a democracia. Na verdade, sua atitude golpista vem de longe, quando trabalhava como ajudante de ordens do general Sylvio Frota, ministro do Exército no governo do presidente Ernesto Geisel durante o regime militar. Em 1977, Frota tentou dar um golpe dentro do próprio golpe, contra Geisel, com o objetivo de endurecer o regime. Geisel e Golbery faziam uma “abertura lenta, gradual e segura”, mas para a turma de Frota, Heleno e companhia isso não era adequado. Integrantes da linha dura, eles queriam ser ainda mais duros. Em outras palavras, desejavam seguir torturando e assassinando presos políticos, como já vinham fazendo nos porões do País.
Houve outro fato interessante, um episódio que revela ao povo brasileiro quem é Augusto Heleno. Ele foi o comandante da “missão de paz” liderada pelo Brasil no Haiti, a Minustah, um dos episódios mais sombrios da participação brasileira em um cenário internacional. Em 6 de julho de 2005, Augusto Heleno foi o responsável por coordenar um ataque com 440 soldados a uma favela no país caribenho, com o objetivo de capturar um perigoso criminoso local. Só que uma missão da ONU não é igual às que acontecem nas favelas cariocas, onde as informações costumam desaparecem para proteger crimes dos dois lados. A ONU, oficialmente, informou que na operação “Punho de Ferro” foram disparadas 22 mil balas, em um confronto que durou sete horas. O resultado em Cité Soleil, Porto Príncipe: Dread Wilme foi morto. Vinte e duas mil balas para matar um homem. Heleno considerou a operação “um sucesso”.
A opinião não foi compartilhada pelas ONGs humanitárias que acompanhavam a ação. Segundo vários grupos, o que ocorreu ali foi um massacre, com dezenas de civis morrendo no fogo cruzado, inclusive mulheres e crianças. A Minustah de Heleno informou que houve apenas cinco ou seis mortes. Das duas uma: ou isso é uma mentira ou os soldados, sob liderança do general Augusto Heleno, são muito ruins de pontaria.
Antes de se tornar ministro do Gabinete de Segurança Institucional, a cena mais famosa envolvendo o general Heleno aconteceu durante a campanha do então candidato Jair Bolsonaro, quando ele deu mostras do seu senso de humor em um evento de campanha. “É a primeira vez na minha vida que vou cantar em um microfone alguma coisa que não seja um hino pátrio. A musiquinha para começar e terminar a inserção televisiva (no horário eleitoral) do Centrão devia ser: ‘se gritar pega Centrão, não fica um meu irmão…”
Pelo jeito eles não só ficaram, todos, meu irmão, como seguem saqueando o Brasil debaixo das barbas de Augusto Heleno e com o apoio de seu chefe, Jair Bolsonaro. Talvez os Lexotans sejam para esquecer a letra da musiquinha.