Douglas Magno / AFP

Desprezados e até humilhados por Bolsonaro, pelo menos oito generais que ocuparam importantes postos na carreira militar — e vinham servindo ao governo do capitão reformado — estão sendo assediados por presidenciáveis que começam a traçar planos para 2022. Esses potenciais candidatos a presidente desejam ter em suas fileiras integrantes das Forças Armadas não só pela capacidade administrativa já demonstrada, mas também porque podem ser úteis no desmantelamento do argumento bolsonarista de que só ele tem o apoio da caserna. A corrida pelo passe desses generais se intensificou nos últimos dias, especialmente por parte do governador de São Paulo, João Doria, e até por seguidores do ex-presidente Lula, que, solto, passou a traçar sua estratégia para disputar a presidência, por mais que seja ficha suja e não possa ser candidato. Esses grupos se apressam em filiar aos seus partidos esses militares rejeitados, como é o caso do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, demitido em junho. O PSDB de Doria está de olho nele e o governador pensa, inclusive, em oferecer-lhe um cargo no governo paulista.

Divulgação

Santos Cruz disse à ISTOÉ que ainda não decidiu se aceitará convites para novos trabalhos em governos estatuais ou mesmo se vai se filiar a algum partido. “Eu já recebo uma boa aposentadoria como militar e também não tenho necessidade de me filiar a uma organização partidária. Trabalhei no governo Bolsonaro porque queria colaborar com o País, mas como o presidente entendeu que eu não servia mais, deixei o governo. Afinal, era uma prerrogativa dele manter quem bem entendesse no ministério”. Ele admite, porém, se filiar a algum partido com o qual tenha convergências, como é o caso do PSDB. “Tenho afinidades com o pensamento do governador Doria, e o PSDB é um partido ao qual posso me alinhar. É normal que os partidos procurem pessoas com potencial administrativo e nós militares já demonstramos grande capacidade de trabalho”. Santos Cruz só tem certeza de uma coisa: não atenderá a chamados que partam de Lula. “O único partido que eu não tenho nenhuma afinidade é com aquele que esteve no poder por um tempo longo nos últimos anos e se caracterizou pela corrupção e demagogia. Eles causaram um mal imenso ao país.”

“Não trabalharia para o PT”

Pensamento semelhante tem o general Maynard Marques de Santa Rosa, ex-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que demitiu-se do cargo por sentir-se “incompreendido e abandonado” por Bolsonaro. Ele acredita na possibilidade de vir a ser “cooptado” por presidenciáveis que desejem atrair os militares preteridos pelo presidente, desde que pensem “no bem estar da população no futuro”, diz Santa Rosa, descartando, contudo, vir a servir a estruturas petistas, por exemplo. “Eu jamais serviria a um partido como o PT, que propõe a bagunça”. O general deixou o governo por ter percebido que Bolsonaro estava sendo “engolido” pela máquina burocrática. “Generais como eu, estávamos trabalhando no planejamento do país para o futuro, mas por causa de incompreensões e despreparo do grupo ideológico que cerca o presidente, não conseguíamos avançar em nossos projetos. Fiz estudos que ficaram na gaveta de meu superior por seis meses”. Santa Rosa diz estar aberto a alternativas para servir a outros projetos desde que levem em consideração seus estudos de reconstrução do país.

Pragmático, Doria acredita que ter Santos Cruz e outros generais ao seu lado reforçará a tese de que seu governo trabalha para dar mais segurança à população. Afinal, o assunto será o principal tema da campanha de 2022, como já foi nas eleições do ano passado. Não é por outra razão que o governador exibe como troféu o general João Camilo Pires de Campos como seu secretário de Segurança Pública. Doria pensa também em filiar um número grande de militares ao PSDB, convencendo inclusive o general Guilherme Theóphilo, secretário de Segurança Pública do ministro Sergio Moro, a retornar ao partido. Ligado ao senador tucano Tasso Jereissati, Theóphilo era filiado à legenda, pela qual disputou, sem sucesso, o governo do Ceará no ano passado. O governador quer fazer um contraponto a Bolsonaro, que tem ao seu lado dezenas de deputados e senadores oriundos da carreira militar, além de 130 oficiais como assessores.

Os generais afastados do núcleo bolsonarista, além de dezenas de outros militares de primeira grandeza que estão na reserva, podem servir a candidatos “comprometidos com o futuro do País”, como explica o general Paulo Chagas, membro do Clube Militar do Rio. Citando trechos do discurso do general Eduardo Villas Bôas, ex-ministro do Exército, atual assessor do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, Chagas diz que as Forças Armadas têm projetos bem estruturados para o desenvolvimento do País e “que precisam andar para a frente”. Todos os generais ouvidos por ISTOÉ compartilham da mesma visão: irão colaborar com os políticos que pensem no futuro do Brasil e não em objetivos meramente eleitoreiros. Haverá alguém com esse perfil?

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