O acentuado e gravíssimo degelo do planeta, ainda pior no Polo Norte, se apresenta em diversas formas. Agora, cientistas da NASA, em parceria a Universidade do Texas, detectaram um tipo incomum de derretimento, encontrado por um drone programado para avaliar a redução de gelo no Ártico. Foi gravada a imagem do que chamaram de “gelo zumbi” em uma lagoa dentro de um iceberg na Baía de Baffin, na Groenlândia. Como nunca mais voltará a ser sólido (não é mais reabastecido pelas geleiras, que cada vez acumulam menos neve), esse gelo morto irá para os mares.

Assim, contribuirá para o aumento do nível das águas em pelo menos 27 centímetros sobre a média global, até 2100, segundo o estudo publicado na revista Nature Climate Change. É mais que o dobro do previsto em 2021 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas e ainda pode chegar a 78 centímetros, com conseqüências muito mais desastrosas que as previstas.
Um estudo de pesquisadores finlandeses repassado à revista Communications Earth and Environment atesta uma diferença em velocidade quatro vezes maior do que as expectativas, quanto a mudanças de temperatura do Ártico, que são medidas desde 1979. E sete vezes em áreas como o Mar de Barents, a noroeste da Rússia. Marés mais altas e tempestades mais intensas resultarão em sérios impactos ambientais até o fim deste século — e não apenas nas áreas costeiras.

“Sem o branco das geleiras, o tom escuro dos mares retém mais energia e provoca mais degelo” Jefferson Simões, glaciólogo da UFRGS (Crédito:Divulgação)

Da catástrofe à cova

Jefferson Cárdia Simões, do Instituto de Geociências da UFRGS, explica que, ao contrário da Antártica, “um continente com gelo sobre terra”, o Ártico é um oceano, circundado por massas continentais, e, portanto, mais vulnerável: “Ali, as águas quentes e as correntes de ar entram com facilidade. A região é mais sensível às mudanças de clima”. O sul da Groenlândia já perde muita massa de gelo “e em vez do branco das geleiras que cobria esses mares, retornando 80% da radiação do sol, o tom escuro dos oceanos passa a dominar, retendo mais energia e provocando mais aquecimento e mais degelo”.

Esse reprocessamento levará ao desaparecimento total dos mares congelados em poucas décadas, agravando até as situações geopolíticas e econômicas globais. Jason Box, autor principal do estudo publicado na Nature Climate Change, há um ano se referia ao planeta como “a caminho da catástrofe”. Agora, já resume: a situação é de “um pé na cova”.