GAZA, 9 OUT (ANSA) – Por Sami al Ajrami – Alegria, tiros para o alto, fogos de artifício e festa nas ruas. A notícia do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, divulgada quando já era noite profunda no enclave, acendeu imediatamente a esperança na população palestina, com uma explosão de alívio após dois anos de bombas, morte e destruição.
Mas poucos acreditam plenamente no sucesso do plano de paz.
“Já passamos por situações assim muitas vezes. Israel pode retomar a guerra após obter a libertação de todos os reféns; nós nunca confiamos neles”, diz Abu Bakr, 54 anos, deslocado da Cidade de Gaza para o sul do enclave há 18 meses e que perdeu a filha e os netos nos primeiros 15 dias de guerra.
“É cedo demais para comemorar o fim da guerra”, acrescenta, sem levantar o olhar e sem esconder o medo, sobretudo em relação ao futuro. Um amanhã que, para ele e milhares de palestinos, permanece uma incógnita, entre traumas e lutos que precisarão ser superados. “Perdi minha casa, meus bens e meu trabalho. O que acontece agora? Continuarei vivendo em uma tenda por anos?”, questiona-se Abu Bakr, assustado.
Yousef Al-Shaikh tem um sentimento semelhante. Até um mês atrás, sua casa ainda estava de pé, e ele estava muito feliz pelo fato de os israelenses não terem-na demolido na parte ocidental da Cidade de Gaza. Mas, há três semanas, ele foi forçado a se deslocar novamente e ainda não sabe se seu lar permanece intacto. “Esta é a minha maior esperança por enquanto”, disse.
Até o momento, o exército israelense controla a principal estrada costeira, a Al-Rasheed, que conecta o sul ao norte. É a única rota para voltar para a Cidade de Gaza, maior centro urbano do enclave. Os refugiados e deslocados no sul aguardam que as forças israelenses se retirem dessa estrada para poder retornar aos seus bairros, mesmo que estejam totalmente destruídos. Eles aprenderam que não devem se mover até que o último soldado israelense tenha deixado a área, sabendo que, no passado, muitas pessoas foram mortas por ousarem voltar correndo.
No entanto, apesar da dor, das pesadas perdas e do ceticismo, as pessoas em Gaza não escondem o alívio com o acordo. Eman Jamal diz que se sente feliz, sobretudo pelo fato de ele e sua família terem sobrevivido a dois anos de guerra sangrenta. Ela vivia em Khan Younis e perdeu tudo, mas está feliz por ver seus filhos vivos e por não precisar mais se preocupar com eles, desde que tudo corra como prometido. “Ficarei nesta tenda por muito tempo, mas temos de alimentar nossos filhos e seguir em frente”, diz, esboçando um sorriso. (ANSA).